A 23ª edição do Cine PE chegou ao fim na noite deste domingo (4), no Cinema São Luiz, e consagrou o documentário “Espero Tua (Re)Volta” como o Melhor Longa-Metragem escolhido pelo Júri Oficial do evento. O filme, de Eliza Capai, reflete, a partir do olhar de três jovens ex-secundaristas, a recente história brasileira por meio das lutas estudantis.
O documentário “Cor de Pele”, de Lívia Perini, ganhou o prêmio de Melhor Curta Nacional, enquanto que na Mostra Competitiva de Curtas Pernambucanos o vencedor foi o filme de ficção fantástica “Coleção”, que ainda abocanhou as Calungas de Prata de Melhor Direção para André Pinto e Henrique Spencer, Melhor Roteiro, Melhor Ator e Melhor Atriz.
O Júri Oficial do Cine PE foi formado pela produtora cinematográfica e cultural Mônica Silveira; a produtora, diretora de fotografia e cineasta Maria Pessôa; o diretor de animação Alisson Ricardo; o roteirista Nelson Caldas Filho; o ator, diretor, produtor cultural e professor Sérgio Fidalgo; Silvia Levy, sócia da nova produtora Alef Films; a jornalista e cineasta Vânia Lima; e o professor-associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro Rafael dos Santos.
O longa-metragem “Teoria do Ímpeto”, de Marcelo R. Faria e Rafael Moura, também foi um dos grandes destaques desta edição, levando para casa quatro Calungas de Prata, incluindo as de Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Ator.
Neste ano, o jurados dos longa-metragens resolveram resgatar a categoria Prêmio Especial do Júri para reverenciar o documentário “Vidas Descartáveis”, de Alexandre Valenti e Alberto Graça. O prêmio foi concedido “pela relevância e urgência do tema abordado, pelo olhar sensível e a contribuição ao combate do trabalho escravo moderno no Brasil”. Por apresentarem um trabalho artístico relevante para o filmo, o júri também concedeu menção honrosa para as atrizes Izabel Santos e Rita Maia, do filme “Abraço”.
JÚRI POPULAR – Pelo segundo ano consecutivo, o público pôde eleger seus filmes favoritos nas três mostras competitivas do festival por meio de um aplicativo para smartphone. O melhor curta pernambucano foi “Mulheres de Fogo”, de Vinícius Meireles, enquanto o divertido “Tommy Brilho”, de Sávio Fernandes, foi eleito o melhor curta nacional. O melhor longa-metragem, para o Júri Popular, foi “Abraço”, do diretor Deivisson Fiuza.
PRÊMIO DA CRÍTICA – Composto por Amanda Aouad, crítica de cinema e editora do site CinePipocaCult; Roberto Cunha, apresentador do Drops de Cinema nas rádios Cidade e StereoZero; e Robledo Milani, sócio-fundador Abraccine, a crítica especializada concedeu a Calunga de Melhor Longa para “Espero Tua (Re)Volta”. O prêmio de Melhor Curta Nacional foi para “A Pedra”, de Iuli Gerbase.
PRÊMIO CANAL BRASIL DE CURTAS – Com júri formado por Ismaelino Pinto, do jornal O Liberal (PA); Clarissa Kuschnir, Revista Preview (SP); Barbara Demerov, do site AdoroCinema (SP); Vitor Búrigo, do CineVitor (SC); e Robledo Milani, do Papo de Cinema (RS), o Prêmio Canal Brasil elegeu como melhor curta a animação “Apneia”, de Carol Sakura e Walkir Fernandes. Com o objetivo de estimular a nova geração de cineastas, o Canal Brasil oferece um troféu e R$ 15 mil para o melhor filme de curta-metragem, que também é exibido em sua grade de programação.
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI – A categoria foi resgatada pela comissão julgadora para reverenciar o longa-metragem “Vidas Descartáveis”, de Alexandre Valenti e Alberto Graça.
PRÊMIO CIA RIO – A CiaRio vai premiar as três produções escolhidas pelo Júri Oficial nas três mostras competitivas. Os filmes eleitos ganharão locação de equipamentos de iluminação, acessórios e maquinaria da empresa NAYMAR.
CONCURSO DE ARGUMENTO – Neste ano, a Escola de Roteirista Empreendedor (RWR) e o CTAV-SAV premiará um argumento no formato de curta-metragem com uma bolsa no valor de 50% no curso de Roteirista Empreendedor da Escola Recife Writers Room (RWR). O projeto selecionado foi “#Relacionamentos”, de Felipe Augusto Hidalgo Barros.
Confira lista completa de premiados:
PRÊMIO CANAL BRASIL
Melhor Curta – “Apneia” (PR)
PRÊMIO DA CRÍTICA – ABRACCINE
Melhor Curta Nacional – “A Pedra” (RS)
Melhor Longa-Metragem – “Espero Tua (Re)Volta” (SP)
MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS
Melhor Filme – “Coleção”
Júri Popular – “Mulheres de Fogo”
Melhor Direção – André Pinto e Henrique Spencer (“Coleção”)
Melhor Roteiro – André Pinto (“Coleção”)
Melhor Fotografia – André de Pina (“Quando A Chuva Vem”)
Melhor Montagem- Paulo Leonardo (“Quando a Chuva Vem”)
Melhor Edição de Som – Alisson Santos (“Quando A Chuva Vem”)
Melhor Direção de Arte – Jefferson Batista (“Quando A Chuva Vem”)
Melhor Trilha Sonora – Miguel Guerra (“S/N (Sem Número)”)
Melhor Ator – Jorge de Paula (“Coleção”)
Melhor Atriz – Hermínia Mendes (“Coleção”)
MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS
Melhor Filme – “Cor de Pele”
Júri Popular – “Tommy Brilho” (CE)
Melhor Direção – Carlos Nigro (“Casa Cheia”)
Melhor Roteiro – Faustón da Silva (“A Margem Do Universo”)
Melhor Fotografia – Gustavo Serrate (“A Margem Do Universo”)
Melhor Montagem – Yan Motta (“Cor de Pele”)
Melhor Edição de Som – Jack Moraes (“#Procuram-se Mulheres”)
Melhor Direção de Arte – Helga Queiroz (“Casa Cheia”)
Melhor Trilha Sonora – Bruno Vieira Brixel (“Vivi Lobo e o Quarto Mágico”)
Melhor Ator – Felipe Kannenberg (“A Pedra”)
Melhor Atriz – Petra Sunjo (“A Margem Do Universo”)
MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS
Melhor Filme – “Espero Tua (re)volta” (SP)
Júri Popular – “Abraço” (BA)
Prêmio especial do Júri – “Vidas Descartáveis” (RJ)
Menção honrosa – atrizes Izabel Santos e Rita Maia, do filme “Abraço” (BA)
Melhor Direção – Marcelo R. Faria e Rafael Moura (“Teoria do Ímpeto”)
Melhor Roteiro – Eliza Capai (“Espero Tua (re)volta”)
Melhor Fotografia – André Carvalheira – Xará (“Teoria Do Ímpeto”)
Melhor Montagem – Eliza Capai e Yuri Amaral (“Espero Tua (re)volta”)
Melhor Edição de Som – Simone Petrillo e Cristiano Scherer (“O Corpo é Nosso”)
Melhor Direção de Arte – Patrícia Nunes (“Um e Oitenta e Seis Avos”)
Melhor Trilha Sonora – André Abujamira e Eron Guarnieri (“Abraço”)
Melhor Ator – Adriano Barroso (“Teoria Do Ímpeto”)
Melhor Atriz – Giuliana Maria (“Abraço”)
Melhor Ator Coadjuvante – Pablo Magalhães (“Teoria do Ímpeto”)
Melhor Atriz Coadjuvante – Débora Duarte (“Um e Oitenta e Seis Avos”)
Com os recentes ataques à Agência Nacional do Cinema (Ancine), era até difícil imaginar um festival com um alcance tão grande como o Cine PE não ser palco de inúmeras mensagens de resiliência e protesto. Não houve, na noite deste sábado (3), um representante de um filme que não tenha criticado o desejo do chefe do Executivo de extinguir a Ancine. Drica Moraes, que foi homenageada do festival e recebeu nesta noite o troféu Calunga de Ouro, maior honraria do festival, encerrou seu discurso de agradecimento falando sobre o atual cenário político do país. “Pra finalizar, não dá pra gente não falar do Brasil, porque a gente sabe que vivemos tempos horrorosos. O governo trabalha incessantemente no incentivo de descredibilizar e demonizar qualquer atividade ligada à cultura e arte, de modo geral, mas nós também podemos dizer que iremos continuar a fazer os nossos filmes”, disparou a carioca, que foi largamente aplaudida pelo público.
Renato Góes, presente no evento para o lançamento de seu novo filme “O Corpo é Nosso!”, de Theresa Jessouroun, também fez uma crítica ferrenha à política atual. “Eu quero agradecer ao festival, porque qualquer iniciativa de cultura, hoje, é resistência! Eu espero que a gente não desista, que a gente não perca a força e a vontade. Não vamos confundir educação, religião e cultura com política”. Góes, que é pernambucano e recebeu o Calunga de Melhor Ator Coadjuvante em 2016 pelo seu papel em “Por Trás do Céu”, de Caio Sóh, foi igualmente ovacionado pela plateia, que por mais uma noite lotou o Cinema São Luiz. Jessouroun, diretora do longa, também expressou sua opinião sobre o assunto e deu uma breve aula sobre o fundo setorial. “Fazer arte é um ato político”, protestou a cineasta.
Guilherme Folly, diretor do documentário em curta-metragem “Pogrom” também arrancou aplausos do público. “Meu filme tenta analisar os últimos acontecimentos do país, principalmente os de 2018, as eleições presidenciais, para tentar entender o que faz a sociedade civil brasileira e seus políticos reverberarem discursos autoritários, fascistas e tão desumanos”, explicou o cineasta. “Pogrom” foi o último curta exibido durante a 23ª edição do Cine PE, que anuncia na noite deste domingo (4) os vencedores em todas as categorias concorrentes das mostras competitivas de curtas-metragens pernambucanos e nacionais, além de longas-metragens. A cerimônia de premiação começa às 19h30, no Cinema São Luiz. As entradas são gratuitas.
A atriz Drica Moraes, homenageada na 23ª edição do Cine PE, participou de coletiva de imprensa na manhã deste sábado no Hotel Nobile Suítes Executive, em Boa Viagem. A intérprete recebe, na noite de hoje, o trófeu Calunga de Ouro pelo conjunto de sua obra. Em conversa, Drica confessou que venera o cinema pernambucano e que gostaria de trabalhar em algum filme daqui. “Eu tenho fetiche por tudo que é feito aqui. Para os cineastas pernambucanos, eu tô facinha, facinha”, contou a carioca, arrancando gargalhadas do público.
Ao lado do filho Mateus – que fez questão de participar do debate ao lado da mãe – Drica, em diversos momentos da conversa, deu ênfase à importância da maternidade em sua vida. “Antes de ser mãe, eu cheguei a pegar sete trabalhos ao mesmo tempo, isso no início da minha carreira. Agora, com a chegada do Mateus, ele passou a ser minha prioridade. Hoje, quando me convidam para algum trabalho, eu só tenho 40 horas semanais disponíveis para me dedicar”, explicou a atriz.
De acordo com Sandra Bertini, diretora do Cine PE, Drica foi escolhida como homenageada por sua importante história dentro do audiovisual. “Drica é uma atriz visceral. Ela vai da comédia ao suspense com maestria, e o festival entende que essa força criativa, que ela carrega ao longo de 36 anos de carreira, deve ser exaltada”, comentou Sandra.
As coletivas de imprensa do Cine PE são importantes oportunidades de troca de experiências, explicações e curiosidades. A roda de conversas da manhã deste sábado (3) foi um momento bastante político. Em foco, o longa-metragem “Espero tua (re)volta!”, de Eliza Capai. Não poderia ser diferente: a produção da cineasta acompanha as lutas estudantis em busca de um ensino público de qualidade e de uma cidade mais inclusiva, e deságua na eleição do presidente Jair Bolsonaro, em 2018. “Eu vejo muito no teu filme essa coisa da euforia dos corpos em revolta, que tem a pretensão de despertar o mesmo em nós, expectadores”, comentou Luís Carlos Merten, jornalista do Estadão, durante o debate. O crítico ainda expressou que tem visto uma conexão muito forte na programação do Cine PE. “Acho que vem acontecendo um diálogo entre o que estamos assistindo, as apresentações das equipes no palco do Cinema São Luiz, e os debates que viemos construindo aqui, sempre com um forte viés político”. De acordo com Capai, para a produção do longa, que tem uma hora e trinta minutos, ela obteve entre 250 e 200 horas de material.
Durante a manhã, também foram discutidos aspectos técnicos e curiosidades dos curtas-metragens exibidos na noite da última sexta-feira (2). Estiveram presentes os representantes do pernambucano “Epígramas”, de Wayner Tristão; “S/N (Sem número), de Renata Malta; “3x Melhor”, de Andriolli Araújo; “Tommy Brilho”, de Sávio Fernandes; “O Mistério da Carne”, de Rafaela Camelo; “Lembra”, de Leonardo Martinelli – diretor que, inclusive, esteve presente no festival no ano passado com o premiado falso documentário “Vidas Cinzas”; “A Margem do Universo”, de Tiago Esmeraldo; e “Vivi Lobo e o Quarto Mágico”, de Isabelle Santos e Edu MZ Camargo.
Assumir o lugar de uma profissional como Graça Araújo não é fácil. Graça, que faleceu em setembro do ano passado, fez o cerimonial do Cine PE – Festival do Audiovisual por 22 anos. Não é à toa que frequentemente ela é apontada como “a voz do Cine PE”. No entanto, com a partida da jornalista, a atriz Nínive Caldas segurou o bastão com muita personalidade. Aplaudida em diversos momentos na noite desta sexta-feira (2), a intérprete roubou a cena em vários momentos. Na plateia ouviam-se muitos elogios à apresentação da atriz, com alusões a seus comentários interessantes e sua capacidade de improviso.
Totalmente confortável no palco do Cinema São Luiz, Nínive
dividiu os holofotes com ótimos filmes. Dos curtas-metragens da noite, alguns
foram largamente aplaudidos – como o cearense “Tommy Brilho”, de Sávio
Fernandes, que acompanha o personagem-título, um aluno que enfrenta as
dificuldades de ser invisível; a animação “Vivi Lobo e o Quarto Mágico”, de
Isabelle Santos, que fala sobre nos aceitarmos como somos; e o documentário “3x
Melhor”, de Andreolli Araújo, que convida o espectador a mergulhar na
trajetória de Elaine Patrícia, uma jovem negra de 20 anos que precisa enfrentar
o preconceito racial.
Outro momento de destaque foi a apresentação de Eliza Capai,
que estreou no festival com seu terceiro longa-metragem, o documentário “Espero
tua (re)volta”. “Eu tô com uma sensação crescente, agravada por esta semana,
que é quase como se tudo o que eu acreditasse tivesse deixando de existir”,
comentou Capai sobre o atual cenário político. O filme reflete, a partir do
olhar de três jovens ex-secundaristas, a recente história brasileira por meio
das lutas estudantis.
Este sábado (3) marca a última noite de exibições do Cine
PE. Compõem a programação os curtas “Trip & Treasure” e “Pogrom”, e os
longas “O Corpo é Nosso!” e “Teoria do Ímpeto”. A noite ainda conta com a
homenagem à atriz Drica Moraes, que recebe o prêmio Calunga de Ouro em
reconhecimento ao seu trabalho.