O Dia RJ-Reservada quanto à vida pessoal…
Pronto, falei! Leo Dias
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Olá!
Camila Gomes
Recife – ‘Só posso dar para os outros o que tenho”, dispara o diretor mineiro Guilherme Fiúza Zenha. Foi assim que ele ofereceu ao público da 18ª edição do Cine PE Festival Audiovisual um recorte de sua própria infância, com ‘O Menino no Espelho’. Exibido durante o evento, que se encerrou na última sexta-feira, em Olinda. O filme é uma adaptação da obra homônima do escritor Fernando Sabino (1923-2004), marcando a estreia do cineasta à frente de um longa-metragem.
Fiúza Zenha chegou a se emocionar ao falar sobre o filme na coletiva concedida à imprensa, em Recife. “O Sabino bebe na fonte daquela infância mágica. No final de sua vida, ele se comportava como um menino. Isso é o que mais me toca”, disse o diretor, contendo o choro. Para retratar essa magia do universo infantil, nada de videogames, computadores ou outras tecnologias. A opção foi adaptar a história lúdica, protagonizada por um menino dos anos 30 e assinada por um autor nascido justamente em 12 de outubro, o Dia da Criança.
Aliás, o tema não serve de inspiração exclusivamente para o diretor. Mateus Solano, que está no elenco como o pai do ator principal, confessa que preserva seu lado menino até hoje. “Tenho feito papeis muito diferentes no momento, tanto no teatro como na TV e no cinema. Meu grande motor para tudo isso é a infância. Sou muito bobo e brincalhão”, entrega o ator, fã de Fernando Sabino. “O livro ‘O Menino no Espelho’ me emocionou muito. Já tinha lido duas vezes e li a terceira antes de começar a filmar. Sempre quis ser o menino e, agora, posso voltar a essa história como o pai dele”, comemora Solano.
Na trama, Fernando (Lino Facioli) é uma criança de 10 anos, filho de Domingos (Solano) e Odete (Regiane Alves). Um dia, ele encontra um candidato perfeito para fazer todas as suas tarefas consideradas chatas: seu duplo, vindo do interior do espelho. Assim, ele passa a se dedicar apenas à diversão, sozinho ou ao lado de sua trupe de amigos. O problema é que, com o passar do tempo, o menino acaba perdendo a autonomia de sua vida para o próprio reflexo.
“Assim como o Fernando do filme, eu cresci inventando as coisas no quintal. Vivia todo machucado, montando e desmontando coisas”, recorda o diretor, que recria parte da própria infância em Minas através de seu protagonista.
Mas, se a ligação sentimental com a história ajudou na fluidez do longa, em contrapartida, algumas questões práticas e técnicas tornaram-se uma verdadeira saga. Seis anos se passaram até conseguir captar os R$ 5 milhões necessários para concretizar o filme, três anos foram gastos aprimorando o roteiro, quatro mil entrevistas com crianças candidatas ao papel foram feitas.
“Quando se trata de um filme de época, tudo acaba saindo mais caro. Por exemplo, é necessário produzir até a roupa, cabelo e maquiagem de cada figurante”, explica o produtor André Carreira. O diretor complementa: “Parece simples, mas imagina explicar para umas 30 crianças que elas precisam cortar o cabelo e ficar com um corte nada moderno?”
Por outro lado, todos no set acabaram entrando em uma grande brincadeira, até os adultos. “Apresentei aos meninos o telefone de lata. Todos disseram: ‘Isso não funciona!’ No dia seguinte, era cada um de um lado, pirando com aquela descoberta”, conta Fiúza Zenha, com um sorriso de satisfação.
A estreia de ‘O Menino do Espelho’ no circuito comercial está marcada para 19 de junho.
BALANÇO DA MOSTRA
Os altos e baixos da 18ª edição do Cine PE Festival Audiovisual
A 18ª edição do Cine PE foi marcada pelo público escasso em relação às edições anteriores do festival. Na mostra, que pela primeira vez contou com títulos internacionais, nem os representantes do longa ‘O Grande Hotel Budapeste’, do americano Wes Anderson, exibido na abertura, compareceram. Parece que os realizadores presentes também não gostaram nada da seleção de curtas nacionais e pernambucanos, sob a curadoria de Rodrigo Fonseca. Os únicos destaques foram ‘Au Revoir’, ficção de Milena Tirnes, sobre o luto, e ‘Tubarão’, documentário de Leo Tabosa. Não à toa, ganharam o prêmio de melhor filme ficcional e documentado, respectivamente.
Entre os documentários de longa-metragem nacionais e internacionais, saiu vencedor ‘O Mercado de Notícias’, em que Jorge Furtado aborda o papel do jornalismo atual a partir de uma peça de 1625 e entrevistas com profissionais.
Na sexta-feira, a cerimônia de encerramento premiou os longa-metragens de ficção. O grande vencedor foi ‘Muitos Homens Num Só’ melhor filme pelo júri oficial e pelo júri popular, melhor direção (para Mini Kert), melhor roteiro (Leandro Assis), melhor trilha sonora (Dado Villa-Lobos), melhor ator (Vladimir Brichta) e melhor atriz (Alice Braga).
O filme com Vladimir Brichta "Muitos Homens num Só", de Mini Kerti foi uns dos mais premiados do 18 ° Cine PE, levou dez prêmios. O global levou o troféu Calunga de Melhor Ator, mas também poderia receber um prêmio pela simpatia, porque foi uma das presenças mais bem humoradas do festival de cinema pernambucano.
Em entrevista ao "CQC", Brichta embarcou no estilo humorístico do programa, que fez piadas com o nome do filme. Ele concordou com a dubiedade perigosa do título. "Se ainda existisse videolocadora teria receio de que fosse colocada, por engano, na seção de proibidos", brincou.
Ele ficou pouco tempo no festival de cinema pernambucano, mas circulou à vontade, tanto no hotel em Recife, quanto no Teatro Guararapes, em Olinda onde aconteceu o evento. Atendeu a todos. Com bom humor, deu entrevistas, pousou pra fotos, e distribuiu autógrafos.
Em entrevista ao UOL, ele explicou o porquê do carinho. "Eu amo Recife, me sinto em casa aqui", declara o ator. "Sempre fui muito bem acolhido ". E a boa relação com a cidade começou pela via do teatro.
Depois de atuar na peça "A Ver Estrelas", de João Falcão, "a melhor peça infantil de todos os tempos", na opinião de Brichta, ele foi convidado para o espetáculo "A Máquina", que o diretor fez questão que fosse montada na capital de Pernambuco.
A peça ficou em cartaz durante dois meses em Recife, de quarta a domingo, com duas sessões aos sábados, e mudou a vida do ator. O sucesso de público chamou atenção (sobretudo da TV Globo) para o elenco do espetáculo, que também contava com nomes como Wagner Moura e Lázaro Ramos. "Foi uma coisa apoteótica em nossa carreira", comenta Brichta.
Mais conhecido por seu personagem picareta na série "Tapas e Beijos", o ator Vladimir Brichta incorpora um sedutor ladrão de hotel, no longa carioca "Muitos Homens num Só",.
Bom momento no cinema
O bom momento no cinema deve continuar no esperado longa "Beleza", de Jorge Furtado. No filme, que está em fase de montagem, Brichta atua ao lado da esposa Adriana Esteves, e de Francisco Cuoco.
Seu personagem no filme é um fotógrafo em crise que viaja para o interior do Rio Grande do Sul em busca de uma nova Gisele Bündchen. A procura do personagem e as dificuldades que ele enfrenta leva a história para um embate conceitual sobre o que é verdadeiramente a beleza.
Sobre contracenar com a esposa, ele garante que foi muito bom. "Antes de ser marido, tenho muita admiração por ela e já trabalhamos juntos antes", conta o ator. "Foi uma experiência muita feliz dividir o set e o chalé com uma pessoa que eu amo".
Sucesso de "Avenida Brasil" incomodou Vladimir Brichta
De imediato, Vladimir Brichta não admitiu, mas depois confirmou que o sucesso de Adriana Esteves em "Avenida Brasil" o incomodou. Depois o ator se explica. "O pior foi no começo, mas depois fica o legado, ela será lembrada pelo resto da vida por esse papel".
Mas para ilustrar o incômodo, ele comenta os prejuízos na divulgação da estreia da peça "Arte" (montagem de texto da mexicana Yasmina Reza), que aconteceu no mesmo período da novela. "A imprensa ia cobrir e só falava da Carminha".
A novela segue fazendo sucesso, agora na Argentina. "Mudaram até para o horário nobre para concorrer com um programa de grande audiência de outro canal", conta Brichta.
"Fizemos uma viagem para os Estados Unidos e lá fomos abordados por causa da novela", desabafa o ator. O mesmo ocorreu , segundo ele, na Costa Rica e Chile. A atriz Adriana Esteves, que deve voltar esse ano à televisão, atualmente filma o novo longa do diretor Marco Jorge. E Brichta no início do ano, filmou com Mariana Ximenes
André De Biase, que fez a assessoria de imprensa do 18.º Cine PE, refletia na sexta-feira à noite – "A gente se prepara de todas as formas, para que tudo dê certo, mas ninguém poderia esperar que uma coisas dessas fosse ocorrer." De Biase referia-se à morte do crítico e agitador cultural baiano João Carlos Sampaio, que se sentiu mal no hotel e morreu na madrugada daquele dia, deixando consternados seus colegas no Festival do Recife. João recebeu a homenagem do Cine PE e de seus companheiros da Abracine, a Associação Brasileira de Críticos de Cinema, da qual era sócio fundador. A cúpula da entidade, liderada pelo crítico do Estado, Luiz Zanin Oricchio, subiu ao palco do Teatro Santa Isabel e um vídeo foi providenciado pelo Canal Brasil.
Basicamente, um depoimento (emocionado) do diretor André Morais, de quem João Sampaio foi ator no curta MPB – A História Que não Foi Contada. A presença alegre do homenageado na tela – ele era daquele jeito – contrastava com o clima de tristeza. As outras duas homenagens da noite, essas, programadas com antecedência, também resultaram fúnebres. Dona Lúcia Rocha, mãe do cineasta Glauber Rocha, morreu a poucos meses da celebração, pelo festival, dos 50 anos do clássico que deu projeção internacional a seu filho – Deus e o Diabo na Terra do Sol. Novamente Luiz Zanin Oricchio subiu ao palco para receber o troféu em nome da família. E aí veio a homenagem ao ator e diretor José Wilker. Receberam o prêmio a filha do ator e suas três tias, irmãs de Wilker.
Deu pra ti, baixo astral. A segunda premiação do Cine PE foi realizada na sequência, tudo muito rápido e discreto. Na terça, os júris de curtas e documentários haviam outorgado suas Calungas, o troféu que representa a dançarina de frevo. Venceram na categoria de documentários – O Mercado de Notícias, de Jorge Furtado, melhor filme, e o português Joaquim Pinto, de E Agora? Lembra-me, como melhor diretor. O admirável E Agora? Lembra-me, melhor filme do 18.º Cine PE – todas as competições confundidas -, venceu o prêmio da Abracine. O júri de ficção descarregou seus prêmios em Muitos Homens num Só, da diretora estreante Mini Kerti. Ela ganhou nove Calungas do júri, mais uma – a décima – como melhor filme do público. Cada Calunga era, compreensivelmente, motivo de festa para os vencedores.
Mini ganhou aquilo que, em Hollywood, se chama de 'Big Five' – melhor filme, diretor(a), ator (Vladimir Brichta), atriz (Alice Braga) e roteiro (Leandro Assios, o primeiro dele). Pode-se considerar excessiva a chuva de Calungas, mas não necessariamente injusta. O júri só se equivocou, e gravemente, ao duplicar prêmios e atribuir um excesso de menções. De forma distributivista, contemplou (quase) todos os filmes que concorriam. Só um dos seis não ganhou nada, e aqui tivemos o nó górdio. O argentino Todos Tenemos Un Plán, de Ana Fiterberg, era muito bom (o melhor?). O júri deu três prêmios para Romance Policial, de Jorge Durán, e depois veio o comunicado de que o ator coadjuvante citado no palco, não era o que o júri queria premiar (veja tabela). O júri, talvez como provocação, também deu menção ao filme mais detestado pela crítica – Mundo Deserto de Almas Negras, de Ruy Veridiano.
Uma comédia de erros, e parte deles pode ser creditada à comoção daquele (pesado) último dia. Mas existem aspectos que não podem ser ignorados. Chamado de Maracanã dos festivais, pelo calor do público que tradicionalmente lotava o Cine-Teatro Guararapes, o Cine PE assistiu este ano à deserção dos espectadores. Houve dias em que o público não cobria um terço da casa, e até menos. O festival também está no centro de uma polêmica com a classe cinematográfica local. Críticos, diretores e estudiosos locais boicotam o Cine PE, dizendo que o casal Sandra e Alfredo Bertini faz seu festival para a crítica do Sul/Sudeste, não para a cultura cinematográfica total. Chuvas, com alertas de enchentes, e outras ofertas de programação ajudam a explicar a redução do público, mas ela é preocupante. A nova curadoria do crítico Rodrigo Fonseca, embora com foco – nas questões da identidade e da memória -, também teve seus problemas. A internacionalização foi tímida, prevaleceu a latinidade. Pior que tudo – os júris foram todos brasileiros. Um olhar estrangeiro talvez ajudasse a corrigir equívocos.