A 25ª edição do Cine PE chegou ao fim na noite desta sexta-feira (26), no Teatro do Parque, e consagrou o romance “Deserto Particular” como o Melhor Longa-Metragem escolhido pelo Júri Oficial do evento. O filme, de Aly Muritiba, que reflete sobre os afetos masculinos no Brasil contemporâneo, através da história de Daniel (Antonio Saboia), um policial que acaba cometendo um erro que põe em risco sua carreira e honra.
A ficção distópica “Nada de Bom Acontece Depois dos 30”, de Lucas Vasconcelos, ganhou o prêmio de Melhor Curta Nacional, enquanto que na Mostra Competitiva de Curtas Pernambucanos o vencedor foi o filme “Terceiro Andar”, que ainda abocanhou as Calungas de Prata de Melhor Direção e Melhor Roteiro para Deuilton B. Júnior.
O Júri Oficial do Cine PE foi formado pela cineasta Deby Brennand; a cineasta Kátia Mesel; o ator de teatro e cinema Sérgio Fidalgo; a jornalista e comentarista de cinema Silvana Marpoara; o publicitário e produtor Mario Nakamura; Keyti Souza, diretora-executiva da Têm Dendê Produções; e Edison Martins, publicitário.
O curta-metragem pernambucano “Playlist”, de Pedro Melo, também foi um dos grandes destaques desta edição, levando para casa cinco Calungas de Prata, incluindo as de Melhor Direção Arte, Melhor Fotografia, Melhor Ator, Melhor Atriz e Melhor Trilha Sonora.
JÚRI POPULAR – Para o público, o melhor curta pernambucano foi “Inocentes”, de Pedro Ferreira, enquanto “O Resto”, de Pedro Gonçalves Ribeiro, foi eleito o melhor curta nacional. O melhor longa-metragem, para o Júri Popular, foi “Receba!”, do diretor Pedro Perazzo.
PRÊMIO DA CRÍTICA – Composto por Francisco Carbone, Camila Henriques e Júlio Cavani, a crítica especializada concedeu a Calunga de Melhor Longa para “Deserto Particular”. O prêmio de Melhor Curta Nacional foi para “O Resto”, de Pedro Gonçalves Ribeiro.
PRÊMIO CANAL BRASIL DE CURTAS – Com júri formado por Cauê Petito, do site Cinemação; Vitor Búrigo, do CineVitor; Francisco Carbone, do site Cenas de Cinema; e Nathalie Alves do Escrocríticas. O Prêmio Canal Brasil elegeu como melhor curta “Aurora – A Rua Que Queria Ser Rio”, de Radhi Meron. Com o objetivo de estimular a nova geração de cineastas, o Canal Brasil oferece um troféu e R$ 15 mil para o melhor filme de curta-metragem, que também é exibido em sua grade de programação.
PREMIAÇÃO FORT FILMES E A KUARUP PRODUÇÕES – A Fort Filmes e a Kuarup Produções elegeu o longa-metragem “Ainda estou vivo”, de André Bonfim, como o melhor filme do Cine PE 2021 e premiará com um contrato de distribuição para prestação de serviços de assessoria de imprensa no valor R$30 mil, numa parceria com a empresa Fato Relevante – Agência de Comunicação.
Confira lista completa de premiados:
PRÊMIO CANAL BRASIL
Melhor Curta Nacional – “Aurora – A Rua Que Queria Ser Rio”, de Radhi Meron
PRÊMIO DA CRÍTICA – ABRACCINE
Melhor Curta Nacional – “O Resto”, de Pedro Gonçalves Ribeiro
Melhor Longa-Metragem – “Deserto Particular”, de Aly Muritiba
MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS PERNAMBUCANOS
Melhor Filme – “Terceiro Andar”, de Deuilton B. Junior
Melhor Diretor – Deuilton B. Junior (“Terceiro Andar”)
Melhor Roteiro – Deuilton B. Junior (“Terceiro Andar”)
Melhor Fotografia – Pedro Melo e Enzo Ferrano (“Playlist”)
Melhor Montagem – Manuela Ferrão e Pedro Ferreira (“Inocentes”)
Melhor Edição de Som – Diego Melo (“Cannabis Medicinal no Brasil: A Guerra pelo acesso”)
Melhor Direção de Arte – Nathalia Monteiro (“Playlist”)
Melhor Trilha Sonora – (“Playlist”)
Melhor Ator – Gabriel Gomes (“Playlist”)
Melhor Atriz – Julyana Batista (“Playlist”)
Menção Honrosa – “Entremarés”, de Anna Andrade. Pela luta e resistência das mulheres em acompanhar a maré e fazer dela sua vida.
MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS NACIONAIS
Melhor Filme – “Nada de Bom Acontece Depois dos 30”, de Lucas Vaconcelos
Melhor Diretor – Lucas Vasconcelos (“Nada de Bom Acontece Depois dos 30”)
Melhor Roteiro – Thiago Foresti (“Algoritmo”)
Melhor Fotografia – Pedro Gabriel Miziara (“Nada de Bom Acontece Depois dos 30”)
Melhor Montagem – Daniel Sena (“Algoritmo”)
Melhor Edição de Som – Micael Guimarães e Ipê Amarelo Filmes (“Algoritmo”)
Melhor Direção de Arte – Erick Souza (“Aurora – A rua que queria ser um rio”)
Melhor Trilha Sonora – Alohamath, Mathias Froes (“Sonho de Verão”)
Melhor Ator – Pedro Nercessian (“Nada de bom acontece depois dos 30”)
Melhor Atriz – Agda Couto (“Algoritmo”)
Menção Honrosa – “Áurea”, de Hewelin Fernandes. Pela valorização da tradição ancestral realizada pelas parteiras.
Menção Honrosa – “Corpo Mudo”, de Marcela Schield. Pela importância do tema abordado.
MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS
Melhor Filme – “Deserto Particular”, de Aly Muritiba
Melhor Diretor – André Bomfim (“Ainda Estou Vivo”)
Melhor Roteiro – Luiz Antonio Pilar e Luis Alberto de Abreu (“Lima Barreto ao Terceiro dia”)
Melhor Fotografia – Matheus da Rocha Pereira (“Os ossos da Saudade”)
Melhor Montagem – Bruna Carvalho Almeida (“Ainda estou vivo”)
Melhor Edição de Som – Napoleão Cunha (“Receba!”)
Melhor Direção de Arte – Doris Rollemberg, por (“Lima Barreto ao Terceiro dia”)
Melhor Trilha Sonora – Felipe Ayres (“Deserto Particular”)
Melhor Ator Coadjuvante – Luthero Renato de Almeida (“Deserto Particular”)
Atriz Coadjuvante – Zezita Matos (“Deserto Particular”)
Ator – Antonio Saboya e Pedro Fasanaro (“Deserto Particular”)
Atriz – Evelin Buchegger (“Receba!”)
Menção Honrosa – A comissão julgadora do 25º Cine PE concede menção honrosa pela luta, resistência e memória afetiva, retratados no documentário “Muribeca”.
Menção Especial – A comissão julgadora do 25º Cine PE oferece uma menção especial pela importante iniciativa de ressocialização e principalmente pela disponibilidade e entrega do elenco do documentário “Ainda Estou Vivo”.
A manhã desta sexta-feira (26) foi de sabatina para os realizadores dos 14 filmes que foram exibidos na última quinta-feira (25) na programação do 25º Cine PE. Os cineastas participaram da última das coletivas de imprensa da edição, que neste ano aconteceram no Hotel Nobile Suítes, em Boa Viagem, no dia seguinte à exibição de cada filme.
Sempre enriquecedores e estimulantes, os debates foram abertos ao público e contaram também com a presença de cineastas e atores envolvidos em todas as produções que foram exibidas na grade do festival.
Entre os filmes debatidos nessa última rodada de conversas estava o documentário em curta-metragem “Janelas Daqui”, representado pelo diretor Luciano Vidigal. “É necessário que haja responsabilidade para contar as histórias da favela. É um filme sobre gente, de manifesto. Procuramos personagens que estão esquecidos, invisíveis, mas que têm muito para falar. Tenho responsabilidade como realizador. Pra onde aponto a câmera eu projeto para o mundo”, comentou.
Também participaram do encontro os realizadores dos curtas “Bloco do Isolamento”, “Prazer da Solidão”, “Utopia”, “Sonho de Verão”, “Áurea”, “Alê – Resistir pela Existência”, “As Novas Aventuras do Kaiser”, “Coleção Preciosa”, “Pedra do Caboclo”, “O Caminho das Águas” e “Dona Dona – A Mística do Boi”.
Após os debates com os responsáveis pelos curtas, o mediador e curador do festival Edu Fernandes conversou os diretores Marcos Pimentel, de “Ossos da Saudade”, e Luiz Antônio Pilar, de “Lima Barreto ao Terceiro Dia”.
Diretor, preto, e trazendo para o Cine PE um recorte da história de Lima Barreto, autor de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, uma voz que nasceu negra na literatura, Luiz Antônio comentou sobre a execução de seu filme. “Hoje o que importa é conteúdo, quem tem história pra contar e como contar. Os meus heróis são esquecidos. As nossas histórias, do povo preto, não foram contadas ainda. Eu vejo como uma obrigação minha que consegui ocupar esse lugar de fala tão amplo, contar as histórias dos negros, a nossa história”.
ESPECIAL
Ainda na sexta, fora das Mostras Competitivas, o Cine PE exibe o longa-metragem de suspense “Recife Assombrado”, de Adriano Portela. A projeção acontece às 14h, no Teatro do Parque. A entrada é gratuita.
ENTREGA DAS CALUNGAS
A 25ª edição do Cine PE entrega seus troféus, as tradicionais Calungas, na noite desta sexta-feira (26). Na ocasião, serão entregues também os prêmios dos vencedores da edição de 2020, que foi realizada virtualmente. A cerimônia acontece no Teatro do Parque, a partir das 19h.
A tarde e noite desta quinta-feira foram marcadas pela exibição dos últimos filmes das mostras competitivas de curtas e longas-metragens da 25ª edição do Cine PE. Ao longo de toda a tarde, no Teatro do Parque, foram exibidos doze curtas-metragens, entre pernambucanos e nacionais. Durante a noite, o telão do imponente teatro da Rua do Hospício, no Centro do Recife, projetou os dois últimos longas.
Na corrida pelas famosas Calungas, o tradicional troféu do festival, foram exibidos três curtas que integram a Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Pernambucanos: o documentário “Pedra do Caboclo”, de Heleno Florentino; a ficção “O Caminho das Águas”, de Antonio Fargoni, que imagina um futuro distópico onde a água tornou-se um bem acessível apenas aos mais ricos; e o documentário “Dona Dona – A Mística do Boi”, de Adalberto Oliveira.
Já na Mostra de Curtas-Metragens Nacionais, foi a vez do público conhecer o nostálgico documentário “Bloco do Isolamento”, de Daniel Barros; a animação “Prazer da Solidão”, de Francielli Noya e Wolmyr Alcantara; o documentário “Janelas Daqui”, de Luciano Vidigal e Arthur Sherman; “Utopia”, de Rayane Penha; “Sonho de Verão”, de Luan Dias; “Áurea”, de Hewelin Fernandes; “Alê – Resistir pela Existência”, de Vicent Gielen; “As Novas Aventuras do Kaiser”, de Marcos Magalhães; e “Coleção Preciosa”, de Rayssa Coelho.
Seguindo a dinâmica deste ano do Cine PE, à noite, depois de um intervalo de duas horas, o festival exibiu o documentário mineiro “Os Ossos da Saudade”, de Marcos Pimentel, e “Lima Barreto ao Terceiro Dia”, de Luiz Antonio Pilar. “O mar é um elemento muito importante no filme, e é incrível que ele tenha desaguado nas telas do Cine PE, sendo lançado quase de frente pro mar”, comentou Marcos.
“Está sendo extraordinário estar aqui, principalmente depois desse período muito difícil de tanto transtorno, transtorno físico, psicológico… Esse filme a gente ia lançar em 2020 e não pôde, agora, já é um preparatório para 2022, que é o centenário da morte de Lima Barreto”, afirmou Luiz Antônio no palco do Teatro do Parque.
COLETIVA – Na manhã desta sexta-feira (26), o festival promove as últimas coletivas de imprensa com realizadores dos filmes que foram exibidos na quinta. O encontro acontece a partir das 9h no Hotel Nobile Suítes, em Boa Viagem. A entrada é aberta ao público e gratuita.
ESPECIAL – Ainda na sexta, fora das Mostras Competitivas, o Cine PE exibe o longa-metragem de suspense “Recife Assombrado”, de Adriano Portela. A projeção acontece às 14h, no Teatro do Parque. A entrada é gratuita.
Além de ser uma importante janela para o escoamento de curtas e longas-metragens realizados de forma independente, festivais de cinema sempre se mostram uma importante oportunidade de aprendizado. Presente no calendário do Recife há 24 anos, o Cine PE é um dos festivais que colaboram para o fomento e distribuição da produção audiovisual brasileira. Além de projeções, debates e atividades de formação e qualificação profissional, o evento também é reconhecido por fortalecer a cadeia produtiva do cinema, dando espaço tanto para estudantes como para cineastas com vasta experiência no currículo. “Enquanto em outros eventos, nós, alunos de comunicação, só conseguimos inserir nossos filmes em categorias específicas, no Cine PE não. Existe oportunidade para os estudantes, valorizando a cena universitária sem nos separar da programação oficial”, comentou Pedro Ferreira, diretor do mocumentário em curta-metragem “Inocentes”, durante coletiva de imprensa no Nobile Suítes Executive, em Boa Viagem.
Durante a conversa, na manhã desta quinta-feira (25), os realizadores dos dez curtas-metragens e dos dois longas exibidos na noite da última quarta (24) tiveram a oportunidade de falar um pouco sobre o processo de produção e execução dos seus filmes. Durante o encontro, que foi aberto ao público, jornalistas e outros realizadores de cultura puderam contribuir com o debate mediado pelo curador do festival e mediador Edu Fernandes. Além de “Inocentes”, participaram da coletiva os cineastas à frente dos curtas “Portas”, “Cannabis Medicinal no Brasil: A Guerra pelo Acesso”, “Playlist”, “Debaixo do Guarda-Chuva pra Ser Resistência”, “Time de Dois”, “Corpo Mudo”, “Pausa para o Café”, “Pega-se Facção” e “Algoritmo”. “É muito importante a existência de políticas públicas para incentivar a produção audiovisual. Cinema é coletivo. Estar num Cine PE é o impulso para muitos de nós, é o incentivo de que vai dar certo”, comentou Thaís Braga, diretora de “Pega-se Facção”.
Durante a manhã, também participaram da conversa André Bomfim, diretor do documentário “Ainda Estou Vivo”, e Pedro Fasanaro, ator do romance “Deserto Particular”. André, que trouxe para o Cine PE seu primeiro longa-metragem, falou sobre a concepção da história, que recorta um processo de ressocialização de detentos em um presídio de Rondônia. “O filme mostra o olhar de responsabilização do agressor, e não o contrário, como costuma acontecer, que a vítima é obrigada a perdoar. Foi uma decisão de montagem manter essa linha. O propósito não é discutir se é válido ou não, mas ampliar a discussão”, explicou.
Já Pedro Fasanaro, intérprete de Sara no longa-metragem de Aly Muritiba, falou sobre a sensibilidade de escuta do diretor. “Uma das coisas que me deixa mais feliz é que o Aly tem uma escuta muito sensível. Construímos muito juntos. Cenas foram mudadas, cenas caíram. Aly sempre disponível para ouvir e adaptar para entender a melhor maneira de fazer a cena. É um filme que conta uma história de amor, com um teor de violência, mas a gente não queria um filme violento, pesado que pudesse despertar certos gatilhos”, disse o ator.
Em sua 25ª edição, o Cine PE estampa em sua campanha publicitária o termo “DemocraCINE”, que remete à necessidade de democratizar o audiovisual como exercício de cidadania. “O cinema ainda sofre diversos preconceitos por parte do público e da própria indústria. Infelizmente, isso é uma realidade. Mulheres recebem salários menores, as pessoas ainda não entendem o conceito de gênero e sexualidade, pessoas cis ainda ocupam o lugar de fala de pessoas trans. ‘DemocraCINE’ é sobre a arte ser um lugar de todos. É sobre abrirmos espaço para que histórias sejam contadas e entregues para cada vez mais gente”, explicou Sandra Bertini, idealizadora do festival.
Na programação da tarde desta quarta-feira (24), curtas-metragens como “Debaixo do Guarda-chuva para Ser Resistência” e “Time de Dois” dialogaram diretamente com o tema da edição. Ultrapassando barreiras, a mostra abordou vários temas sensíveis e urgentes em filmes como “Cannabis Medicinal no Brasil: A Guerra Pelo Acesso”, um documentário sobre a difícil realidade de pacientes do Nordeste que usam a maconha como alternativa para a saúde e qualidade de vida; o doloroso “Corpo Mudo”, que descortina a violência sexual contra crianças e adolescentes através de depoimentos de vítimas; o documentário “Pega-se Facção”, que descostura o capitalismo; e “Algoritmo”, ficção que imagina um futuro distópico em que um governo totalitário controla o fluxo de informações.
Em paralelo, curtas como “Portas” e “Inocentes” ecoaram pelo Teatro do Parque, pondo a mão na ferida de todo mundo que foi afetado pela pandemia. “‘Inocentes’ é um vômito sobre esse fim de mundo e esse momento apocalíptico que estamos vivendo”, comentou o diretor Pedro Ferreira. Completaram as mostras de curtas-metragens o afetivo “Playlist” e “Pausa para o Café”, que narra o encontro entre duas mulheres no intervalo do trabalho para abordar um assunto delicado.
À noite, o primeiro longa-metragem a ser exibido foi o documentário “Ainda Estou Vivo”, de André Bonfim. “É a primeira vez que eu vou assistir ao filme no cinema. Ele foi finalizado durante a pandemia, num processo bem difícil de troca de frames para colorização e outras etapas. É uma alegria pra mim estar aqui e ver que meu filme vai ser visto pelo grande público”.
Na sequência, o festival trouxe “Deserto Particular”, de Aly Muritiba, indicado nacional para concorrer a uma vaga no Oscar. “Eu bebi da minha própria história pra construir minha personagem, então foi um presente pra mim e é um orgulho poder levá-la para todo o Brasil”, comentou Pedro Fasanaro, que interpreta Sara no longa.
O auditório do Hotel Nobile Suítes, no Pina, foi palco da primeira coletiva de imprensa da 25ª edição do Cine PE, na manhã desta quarta-feira (24). Como já é tradição na programação do festival, o curador e mediador Edu Fernandes reuniu os realizadores e representantes dos filmes exibidos na noite anterior para conversar sobre o processo de produção, roteiro e filmagem de seus filmes.
Em um período marcado pela pandemia, um dos temas recorrentes no debate foram as soluções encontradas para rodar um filme mantendo o distanciamento social. Caio Sales, diretor do curta-metragem “Angustura”, falou sobre o processo de construção de um texto empático, que dialogasse com o máximo de gente. “Na primeira versão, era um poema e foi se adaptando. Eu queria falar de algo íntimo, mas que não se encerrasse na minha própria história, que as pessoas pudessem se reconhecer nessa dor da pandemia, de incerteza, instabilidade, essa dor que todos passaram”, explicou.
Lucas Carvalho, que apresentou ao público o angustiante “Vizinhança”, falou sobre como levou um pouco de sua própria experiência para o filme: “Antes da minha mudança para Vitória, eu achava que teria novas oportunidades de trabalho. Eu tô lá e ainda tenho vizinhos que não me cumprimentam. Foi onde, pela primeira vez, sofri preconceito. Estou sob o olhar das pessoas de um bairro majoritariamente branco. Sou um dos pouquíssimos pretos na rua”, comentou.
Também estiveram no debate os realizadores dos curtas “Entremarés”, “Terceiro Andar”, À Beira do Gatilho”, “A Conta-Gotas”, “Retina”, “Nada de Bom Acontece Depois dos 30”, “O Resto” e “Aurora – A Rua Que Queria Ser Um Rio”.
Na sequência, Alcione Ferreira e Camilo Soares falaram um pouco sobre a realização do documentário “Muribeca” e sobre a relação com os moradores do conjunto habitacional, que, até a condenação estrutural do local e retirada da comunidade, vibrava cultura e harmonia. “Entre os tantos conjuntos residenciais da Região Metropolitana do Recife, Muribeca sempre se destacou por trazer uma efervescência cultural e política”, pontuou Alcione Ferreira.
Encerrando a primeira roda de debates, o diretor Pedro Perazzo, do policial “Receba!”, comentou sobre as sensações de voltar ao cinema nesse momento de retomada. “Foi um misto de emoções, ver o filme projetado com plateia e estar sentado num cinema, coisa que eu não fazia desde março de 2020. Ver a reação do público e as pessoas reagindo em momentos que eu não esperava foi muito prazeroso. Foi uma noite de muita carga emocional devido à pandemia”, contou.
Feliz com a recepção positiva do longa, Pedro também abordou as dificuldades de atingir o grande público. “A gente queria fazer um filme que fosse popular, apesar de saber das dificuldades para isso. Existe um gargalo de distribuição, o que dificulta para que um filme extrapole e chegue em um número maior de pessoas. Hoje em dia, está ainda mais difícil”.
PROGRAMAÇÃO Durante a tarde e noite desta quarta-feira (24), serão exibidos dez curtas-metragens: os pernambucanos “Portas”, “Inocentes”, “Cannabis Medicinal no Brasil: A Guerra Pelo Acesso” e “Playlist”, e na mostra de curtas nacionais, “Corpo Mudo”, “Pausa Para o Café”, Pega-se Facção”, “Algoritmo”, o potiguar “Time de Dois” e o documentário paulistano “Debaixo do Guarda-chuva pra Ser Resistência”. Já a Mostra Competitiva de Longas-metragens exibe “Ainda Estou Vivo” e “Deserto Particular”.