Na noite desta quinta-feira (6), o 28º Cine PE abriu suas portas com a estreia nacional do aguardado filme “Grande Sertão”, dirigido por Guel Arraes. A adaptação cinematográfica do clássico literário “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa, atraiu uma audiência ansiosa, que lotou o Cineteatro do Parque, no Recife. Além do cineasta pernambucano, o evento contou com a presença ilustre do elenco principal, incluindo Luisa Arraes, Caio Blat, Eduardo Sterblitch, Rodrigo Lombardi e Luís Miranda, que fizeram questão de prestigiar a première.

Ao apresentar o longa, Guel ressaltou a genialidade da obra de Guimarães Rosa, que, escrita há quase 70 anos, narra um conflito que parece tão atual. “O filme ‘Grande Sertão’ transpõe a história do grande Guimarães Rosa da guerra no interior de Minas, no fim do século XIX, pra guerra da favela, entre polícia e bandidos, essa guerra que até hoje a gente tem dificuldade de entender. Eu não vejo solução nem à direita nem à esquerda. A direita tem uma solução ruim a curto prazo, a esquerda tem uma solução boa a longo prazo demais. E a arte não tem uma solução prática pra vida, como a política, mas a arte pode dar uma visão mais profunda, mais humana de uma realidade”, explicou o diretor.

Pela primeira vez em sua história, o festival iniciou com uma emocionante homenagem às trilhas sonoras de filmes brasileiros. A Orquestra Bravo, sob a batuta do maestro Dierson Torres, executou as músicas “Olê, mulher rendeira”, do filme “O Cangaceiro”; “O que será”, de “Dona Flor e seus dois maridos”; “Bye bye, Brasil”, do longa de mesmo título; “Esperando na janela”, de “Eu, tu, eles”; “Bicho de sete cabeças”, do filme homônimo; “O tempo não para”, de “Cazuza”; e “Tempo perdido”, de “Somos tão jovens”.

Nos momentos finais do concerto, a orquestra recebeu convidados especiais que abrilhantaram a apresentação com seus vocais: o cantor e compositor Silvério Pessoa, que cantou “Você não me ensinou a te esquecer”, de Lisbela e o prisioneiro”; Carlos Filho, ex-participante do The Voice Brasil, que cantou “Beatriz”, de “O grande circo místico”; e Mariana Rocha,ex-The Voice Kids, que deu voz a “Como nossos pais”, de “Ainda somos os mesmos”, filme de abertura do Cine PE 2023. Enquanto a música preenchia a sala, cenas dos filmes homenageados eram projetadas na tela, proporcionando uma viagem sensorial pela história do cinema nacional.

A noite também foi marcada por uma homenagem à atriz e cantora Tânia Alves, por sua inestimável contribuição ao cinema e à música brasileira. Tânia recebeu a Calunga de Ouro das mãos do maestro Spok, do prefeito do Recife, João Campos, e da governadora do estado de Pernambuco, Raquel Lyra. Tânia agradeceu o reconhecimento citando alguns dos pernambucanos que marcaram sua carreira artística, começando pelo seu pai, “recifense de Casa Amarela”. “Eu sou atriz graças a um pernambucano que me ensinou a pisar no palco de forma visceral e despudoradamente brasileira. Seu nome é Luiz Mendonça”, declarou, relembrando ainda Robertinho do Recife, Alceu Valença, Geraldinho Azevedo, Carlos Fernando e Dominguinhos, além dos paraibanos Elba Ramalho e Zé Ramalho. Entre risos e lágrimas, a homenageada desta edição contou que sua primeira vez no carnaval de Recife e Olinda foi a convite de Spok, para cantar com sua orquestra.

O prefeito João Campos aproveitou a ocasião para comentar a recente desapropriação dos edifícios do Triannon e do Art Palácio, extintos cinemas de rua localizados na Avenida Guararapes, para a construção de um Instituto Federal: “Vamos fazer as salas de aula no Trianon e uma sala de audiovisual, que será usada como auditório do Instituto Federal e também um cinema aberto à população do Recife, no Art Palácio”.

Raquel Lyra comentou sobre a importância de fomentar a arte, a cultura e a economia criativa. “A gente não quer artista pedindo esmola. A gente quer artista que possa viver da sua arte o ano inteiro”, pontuou a governadora.

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