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Júlio Cavani – Diario de Pernambuco

Getúlio assume o difícil desafio de transmitir os sentimentos sentidos pelo presidente Vargas nos momentos anteriores a sua morte. Mais do que ser didático e tentar explicar o que aconteceu, o filme do cineasta João Jardim (com direção de fotografia de Walter Carvalho) procura recriar o clima de insegurança política que tomou conta do Palácio do Catete em 1954. Se o espectador ficar perdido, portanto, o objetivo foi cumprido.

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Na verdade, o filme oferece diferentes camadas de acordo com as referências de quem assiste. Os que ainda lembram bem dos acontecimentos ou tiraram boas notas nas aulas de História na escola alcançarão mais detalhes e nuances (até porque os personagens coadjuvantes não são tão aprofundados e é preciso ter informações prévias sobre alguns deles). Os menos familiarizados com o tema captarão, pelo menos, o clima de conspiração que cercou Getúlio Vargas, interpretado por Tony Ramos.

A construção do ambiente, em tons sombrios, é o melhor do filme, que parece ter sido inspirada em filmes de gângsters. O estado de descontrole vivido pelo personagem-título também é bastante sugerido por meio dos recursos cinematográficos. Apesar de manter a calma, Vargas parece delirar em alguns momentos, está decepcionado com a vida e cada vez mais perde a capacidade de concentração.

A escolha do ator, entretanto, atrapalha um pouco, pois Tony Ramos, com suas mãos e braços peludos, é uma figura conhecida demais para representar uma figura tão icônica para os brasileiros (erros semelhantes ocorreram recentemente com Tom Hanks como Disney em Walt nos bastidores de Mary Poppins e com Anthony Hopkins em Hitchcock).
 

 

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