O elemento em comum entre os filmes exibidos na última quinta-feira (1º), durante a 23ª edição do Cine PE, é que cada personagens precisa lidar com algum mistério pessoal. Júlio é assombrado pelos acontecimentos sobrenaturais que invadem sua casa ao resgatar um acervo de fotos antigas de seu avô, na ficção pernambucana “Coleção”, de André Pinto e Henrique Spencer. Em uma cidade, moradores são atormentados por um lobisomem possuído por um desejo insano de estripar suas vítimas no suspense “Guará”, de Fabrício Cordeiro e Luciano Evangelista.
Seguindo o mesmo tom sombrio, o pernambucano “Casa Cheia”, de Carlos Nigro, fala sobre esquecimento e abandono. Júlia, personagem da animação “Só Sei Que Foi Assim”, de Giovanna Muzel, sente as partes do seu corpo se despedaçando diante de sua rotina. E até no poético “Vinillis Frutiferis”, um jornalista é levado ao interior do Espírito Santo por uma misteriosa safra de árvores cujos frutos são discos de vinil.
Também é enigmático o longa-metragem carioca “Um e Oitenta e Seis Avós”, do diretor estreante Felipe Leibold. O drama tem como ponto de partida um estranho diagnóstico do desaparecimento de órgãos, como rins e pulmões, de sua personagem principal. A atração pelo mistério é tão perceptível que até mesmo os discursos de apresentação das produções foram pautados pela máxima do “menos é mais” – talvez pelo fato de um mesmo filme ser consumido de diferentes formas por cada expectador, mas principalmente porque a melhor sinopse para cada uma das películas exibidas seria assistí-la e tirar suas próprias conclusões. O próprio material de divulgação das produções pouco explicava, mas foi suficientemente instigante para lotar novamente o Cinema São Luiz.
Na noite desta sexta-feira (2), o festival dá continuidade a sua programação a partir das 19h30, com a exibição do curtas “Epigramas”, “S/N (Sem Número)”, “Tommy Brilho”, “Vivi Lobo e o Quarto Mágico”, “À Margem do Universo”, “3x Melhor”, “Lembra” e “O Mistério da Carne”. Em seguida, o Cine PE exibe o documentário em longa-metragem “Espero Tua (re)volta”, de Eliza Capai. As entradas são gratuitas.