CINE PE, 25 ANOS: HÁ MOTIVOS PARA SE COMEMORAR
Inspirado em um trecho de “Otelo”, a grande obra de Shakespeare, as marchas “Pompa e Circunstância” compostas por Edward Elgar, trazem uma lembrança especial para esta edição do jubileu de prata do Cine PE. Afinal, por tudo que foi sonhado para esse grande feito, levávamos a apostar num evento com toda pompa possível, haja vista à circunstância tão motivadora. Casamento perfeito para se comemorar os 25 anos ininterruptos de produção, entre glórias e percalços.
No entanto, pela dimensão natural de qualquer festejo, é certo que não poderemos contar com a pompa transcrita pelas notas da marcha musical de Elgar. Também porque uma outra circunstância, que nos revelou o tamanho da dor de uma pandemia, impôs a necessidade de uma marcha bem diferente, mais cautelosa. Enfim, se imaginávamos chegar aos 25 anos com outra disposição, por meio de uma proposta bem menos contida, uma nova realidade nos ensinou que as adaptações são possiveis. Foi assim quando fizemos a edição anterior totalmente virtual. Será assim agora, quando iniciaremos o marco dos 25 anos de modo híbrido.
Uma pena que as circunstâncias impostas pelos tempos inglórios que hoje vivemos ainda possam nos surpreender. Por isso, a prudência parece ser a palavra mais apropriada para ser aplicada nessas horas difíceis. Perdem-se aquelas situações de pompa e circunstância. No entanto, tornam-se necessárias as forças que animam e motivam quaisquer modos adequados para uma reação efetiva. Ou seja, que se mantenha o espírito de empreender, dentro dos padrões possíveis.
De fato, entre a crise sanitária, as dificuldades econômicas (derivadas ou não da pandemia) e, mais propriamente, os motivos da brutal asfixia da produção cultural brasileira, estão a resiliência por encarar desafios e a disposição por fazer acontecer o possível, no âmbito do que parece impossivel. É justamente nesse espírito que a direção do Cine PE 25 anos se apresenta, justo para executar o projeto à altura da sua tradição. Mesmo que as marchas traçadas e seguidas não sejam assim tão clássicas, como as da pompa e circunstância de Elgar. O importante é dar mesmo provas de resiliência, sempre tão comuns aos que vivem do fazer a cultura.
Para não perder um mínimo senso histórico, antes que tratemos do como será esse tão esperado jubileu de prata, cabem as boas lembranças dessa conquista. Neste festival, foram vivenciados grandes momentos, de uma maneira tal que muitos deles entraram para a história do audiovisual e da cultura, rendidos por esse palco de diversidade chamado Brasil.
Lembranças que se escrevem, por exemplo,: através daquela primeira exibição do “Central do Brasil”, imediatamente após os “ursos” de Berlim. Do pioneirismo em trazer à tona algumas questões da hora, sobre o respeito às diferenças que pautam essa pluralidade tão brasileira. Daqui saiu a “carta do Recife”, manifesto que bradou pela oportunidade de se lutar pelos espaços da etnia e da cultura afro. Fizemos nossa parte quando também trouxemos à tona uma edição 100% feminina, na qual enaltecemos, como homenagens referencias as “Glórias” da arte audiovisual do nosso país. Fomos ousados na escolha, com retumbante sucesso, de fazer do “Rei Pelé” o homenageado maior dos nossos 15 anos. E, de tudo isso, por que não destacar o nosso orgulho derivado do recongecinento desse sucesso, que sempre foi a marca maior deste festival: o público fiel e numeroso. Nada nos emociona mais que o registro imbatível de assistir mais de 3 mil pessoas por sessão, todas simplesmente envolvidas 4ŕpelo ideal de apostar no audiovisual brasileiro. Uma trajetória arrepiante e que nos coloca no desafio dos tempos atuais. Que chegam agora aos 25 anos.
Bem, o início desse novo marco dará logo com as tradicionais mostras competitivas de filmes. E esse vigor do que tratamos aqui como uma tradição está bem afinado em duas direções. Na volta ao cinema e no ambiente onde essas mostras ocorrerão. Na primeira situação, pela experiência de retomar as exibições numa sala de cinema, depois do exitoso e inédito exercício de fazê-las pela TV e internet. Em seguida, porque se essas projeções perderão a tradição e o charme do velho cinema “São Luiz”, irão agora conquistar outro ambiente não menos tradicional e charmoso: o Cine-Teatro do Parque. Trata-se de um espaço cultural centenário, recém-restaurado, que nos dará o privilégio de acolher essa edição histórica do Cine PE.
Realizadas, então, as mostras competitivas no Cinema do Parque, as demais etapas da programação serão cumpridas entre dezembro/21 e março/22, entre as quais as oficinas e os seminários. Mesmo que se tenha em pauta a intenção híbrida, essas etapas, em larga medida, serão executadas pelos recursos virtuais. Vale acrescentar ainda um acordo com a televisão pública local, onde serão também exibidos os filmes curtas-mensagens dessa mostra. Períodos e conteúdos, referentes a cada uma etapa de todas essas etapas da programação, serão oportunamente difundidos. Ademais, cabem ainda dois registros finais sobre essa edição dos 25 anos – as homenagens e a linha de comunicação.
A respeito das homenagens, definimos por dois modelos. A homenagem básica, que fará jus à nossa honraria maior (o troféu Calunga Dourada) será direcionada a esse grande e talentoso artista que é Lázaro Ramos. Nem é preciso muito esforço de pesquisa para reconhecer nele, apesar da sua juventude, uma folha expressiva de serviços prestados ao audiovisual, como ator e agora diretor. Portanto, um reconhecimento digno e meritório.
A outra face das homenagens traz um sentido emocional mais saudoso. A pandemia nos proporcionou, também, a tristeza das perdas de nomes importantes desse cenário audiovisual, um contexto que nos impõe o reconhecimento desses valores como forma adicional de homenagem. E isso será consagrado na noite de encerramento das mostras, marcada para o Cine do Parque.
Por fim, uma palavra adicional sobre a linha de comunicação adotada, elemento importante para quem investe no projeto e quer saber a respeito, bem como, para o público que através dela colhe também as informações sobre o festival. Tempos difíceis de pandemia e de desconsideração de alguns agentes pela liberdade de se expressar nos serviram de inspiração. Assim, com a força do significado do audiovisual ratificamos o termo CINE como identidade de comunicação para esse momento das adversidades citadas. Por isso, nosso endosso para o VaCINE e o DemocraCINE, por entendermos o papel da nossa atividade cultural como elemento essencial do exercício de uma cidadania consciente. A grandeza e a beleza expressas na nossa diversidade justificam qualquer atitude nesse sentido.
No mais, renovamos nossos sinceros agradecimentos às pessoas e instituições que, de modo público ou privado, exerceram sua escala de participação nesse proposta dos 25 anos. Da mínima a maior das influências que possam ser aqui registradas, todas são dignas do nosso melhor reconhecimento.
Sensibilizados pela trajetória e pelo alcance da mais de duas decadas de festival, a direção e toda sua equipe já renovam suas forças para outras conquistas semelhantes. Quem sabe para o alcance axitoso de outro ciclo de 25 anos.
Nosso muito obrigado.