O auditório do Hotel Nobile Suítes, no Pina, foi palco da primeira coletiva de imprensa da 25ª edição do Cine PE, na manhã desta quarta-feira (24). Como já é tradição na programação do festival, o curador e mediador Edu Fernandes reuniu os realizadores e representantes dos filmes exibidos na noite anterior para conversar sobre o processo de produção, roteiro e filmagem de seus filmes.
Em um período marcado pela pandemia, um dos temas recorrentes no debate foram as soluções encontradas para rodar um filme mantendo o distanciamento social. Caio Sales, diretor do curta-metragem “Angustura”, falou sobre o processo de construção de um texto empático, que dialogasse com o máximo de gente. “Na primeira versão, era um poema e foi se adaptando. Eu queria falar de algo íntimo, mas que não se encerrasse na minha própria história, que as pessoas pudessem se reconhecer nessa dor da pandemia, de incerteza, instabilidade, essa dor que todos passaram”, explicou.
Lucas Carvalho, que apresentou ao público o angustiante “Vizinhança”, falou sobre como levou um pouco de sua própria experiência para o filme: “Antes da minha mudança para Vitória, eu achava que teria novas oportunidades de trabalho. Eu tô lá e ainda tenho vizinhos que não me cumprimentam. Foi onde, pela primeira vez, sofri preconceito. Estou sob o olhar das pessoas de um bairro majoritariamente branco. Sou um dos pouquíssimos pretos na rua”, comentou.
Também estiveram no debate os realizadores dos curtas “Entremarés”, “Terceiro Andar”, À Beira do Gatilho”, “A Conta-Gotas”, “Retina”, “Nada de Bom Acontece Depois dos 30”, “O Resto” e “Aurora – A Rua Que Queria Ser Um Rio”.
Na sequência, Alcione Ferreira e Camilo Soares falaram um pouco sobre a realização do documentário “Muribeca” e sobre a relação com os moradores do conjunto habitacional, que, até a condenação estrutural do local e retirada da comunidade, vibrava cultura e harmonia. “Entre os tantos conjuntos residenciais da Região Metropolitana do Recife, Muribeca sempre se destacou por trazer uma efervescência cultural e política”, pontuou Alcione Ferreira.
Encerrando a primeira roda de debates, o diretor Pedro Perazzo, do policial “Receba!”, comentou sobre as sensações de voltar ao cinema nesse momento de retomada. “Foi um misto de emoções, ver o filme projetado com plateia e estar sentado num cinema, coisa que eu não fazia desde março de 2020. Ver a reação do público e as pessoas reagindo em momentos que eu não esperava foi muito prazeroso. Foi uma noite de muita carga emocional devido à pandemia”, contou.
Feliz com a recepção positiva do longa, Pedro também abordou as dificuldades de atingir o grande público. “A gente queria fazer um filme que fosse popular, apesar de saber das dificuldades para isso. Existe um gargalo de distribuição, o que dificulta para que um filme extrapole e chegue em um número maior de pessoas. Hoje em dia, está ainda mais difícil”.
PROGRAMAÇÃO Durante a tarde e noite desta quarta-feira (24), serão exibidos dez curtas-metragens: os pernambucanos “Portas”, “Inocentes”, “Cannabis Medicinal no Brasil: A Guerra Pelo Acesso” e “Playlist”, e na mostra de curtas nacionais, “Corpo Mudo”, “Pausa Para o Café”, Pega-se Facção”, “Algoritmo”, o potiguar “Time de Dois” e o documentário paulistano “Debaixo do Guarda-chuva pra Ser Resistência”. Já a Mostra Competitiva de Longas-metragens exibe “Ainda Estou Vivo” e “Deserto Particular”.