Por Carlos Helí
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RECIFE – Exaltada como a grande revelação do audiovisual brasileiro dos últimos anos, o cinema pernambucano surgiu mal representado na primeira noite competitiva do 18° Cine PE Festival Audiovisual, no último sábado (26).
Dos cinco títulos exibidos na Mostra Pernambuco, apenas “Au revoir”, de Milena Times, já premiado em outras contendas, e “Rabutaia”, de Brenda Lígia, conseguiram se destacar dentro de uma seleção marcada por temas envelhecidos e um certo amadorismo técnico e formal.
A decepção se estendeu a “No tiro do bacamarte… Explode a cultura pernambucana!”, de Xisto Ramos, sobre a tradição dos bacamarteiros, o único representante do estado entre os cinco filmes exibidos na Mostra Curta Brasil, que reúne concorrentes de todos os estados.
Delicado retrato de Gilson Silva, um típico cidadão negro brasileiro, que relata com muito bom humor sua relação com a mulher, a família, a educação e o racismo no país, “Rabutaia” é arrematado por um paralelo com a tragédia de Cláudia Silva Ferreira, a carioca que morreu depois de levar um tiro e ser arrastada por um carro da PM, no em março deste ano, no Rio.
O curta de Brenda Lígia termina com uma pintura da auxiliar de serviços gerais, moradora de uma comunidade de Madureira, vítima da ação policial que chocou o país, em homenagem explicitada pela diretora ao apresentar seu filme, no palco do Cine Teatro Guararapes.
– Dedico essa sessão a todos os Silvas deste país, em especial a uma mulher, negra, pobre e favelada, Cláudia Silva Ferreira – reforçou a diretora, arrancando aplausos da plateia.
Internacionalização e amadurecimento
A programação da noite foi encerrada com a exibição, fora de concurso, da produção americana “O Grande Hotel Budapeste”, de Wes Anderson, vencedor do grande prêmio do júri do último Festival de Berlim (fevereiro). Inspirado em diversas histórias da obra do escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942), que viveu seus últimos anos no Brasil, o filme foi escolhido para inaugurar a nova fase do Cine PE, que a partir deste ano abre suas mostras competitivas de longas para a produção estrangeira.
– A internacionalização do Cine PE faz parte de um processo de amadurecimento e de crescimento, pois ele é um dos maiores festivais do país, considerando-se o respeito que temos do poder público, da classe e do público que o prestigia desde a sua primeira edição – explica Sandra Bertini, codiretora do festival. – O espaço dos filmes brasileiros sempre será preservado através das produções de curtas e longas-metragens. O cinema é uma arte universal, é o momento da internacionalização.
* O repórter viajou a convite do festival.