Ao fim de uma semana intensa, com cinco noites de exibição de curtas e longas-metragens, cinco coletivas de imprensa, uma mostra paralela de curtas e três seminários, o 27º Cine PE chega em sua reta final com a última rodada de debates com os realizadores. Os últimos participantes da Mostra Competitiva de Curtas-Metragens representam realidades diametralmente opostas: enquanto “Virtual Genesis” (DF), dirigido por Arthur Senra, foi feito utilizando imagens criadas por inteligência artificial, o documentário “Solidariedade” (SP), de Fernanda Pessoa, foi inteiramente filmado em película Super-8.

Na sequência, o curador do festival, Edu Fernandes, mediou a coletiva com a equipe de “Chumbo”. O documentário do Mato Grosso, que integra a Mostra Competitiva de Longas-Metragens desta edição, explora diferentes pontos de vista de mulheres da comunidade quilombola do Chumbo, cujos moradores trabalharam durante mais de 20 anos na usina Alcopan em condições análogas à escravidão. Estavam presentes o diretor Severino Neto, o assistente de direção Marcos Valentim, o diretor de fotografia Marcos Maia, e Jusiane Lima, uma das representantes da comunidade entrevistadas no filme.

Sobre as muitas contradições entre os pontos de vista das trabalhadoras, moradoras de uma localidade que luta para sair da zona de vulnerabilidade, Jusiane explana: “Não existe verdade, existem janelas e de cada ponto você vê uma vista. Quando a Néia e outros falam ‘eu sinto saudade da usina’, pra ela talvez é porque era a única oportunidade de ganhar um pouquinho. Muitos pensam ‘eu era escravizado, mas eu tinha um dinheiro, eu tinha 500 reais, agora eu não tenho esses 500 reais’. Eu entendo elas, porque pra gente viver lá é uma resistência. É um lugar abandonado pelo poder público, a nossa história é parecida com muitas outras histórias, de pessoas que vivem em periferia ou lugares sem nenhum acesso. E são essas as verdades desse povo que não teve acesso, que não pôde enxergar outra vertente, essa foi a única vista que eles enxergaram. Eu fui fazendo isso e aquilo e consegui um lugarzinho ao sol, mas eles não tiveram a mesma oportunidade, então, pra eles, esse trabalho era só um trabalho, não era um trabalho escravo. Eu não sinto saudade da usina, eu não sinto saudade da doença que eu peguei, eu não sinto saudade das violências que eu presenciei, mas as pessoas sentem saudade de muita coisa dessa época.”

Encerrando a manhã, o diretor Guto Pasko, a produtora Andréia Kaláboa, a atriz Gabriela Freire, os atores Daniel Chagas, Eduardo Borelli e Leandro Daniel, e Ana Beatriz Fortes, cuja história inspirou o filme, se reuniram para falar sobre “Entrelinhas” (PR). O longa de ficção, baseado em fatos ocorridos quando Ana Beatriz tinha 18 anos, quando foi presa e torturada pela ditadura militar em Curitiba, fechou a programação desta edição do Cine PE. Guto retorna ao festival pelo segundo ano consecutivo, tendo sido premiado em 2022 com o documentário em longa-metragem “Aldeia Natal”.

Premiação

Na noite de hoje (9), o palco do Cineteatro do Parque terá premiações em dose dupla: antes de anunciar os vencedores desta edição, serão entregues as Calungas de Prata aos vencedores do Cine PE 2022.

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