No quarto dia de coletivas do 29º Cine PE, o amor em suas formas mais profundas e a força criativa diante da escassez de recursos marcaram os debates com os realizadores da Mostra Competitiva. O destaque da manhã foi o longa “Senhoritas”, de Mykaela Plotkin, que trouxe à mesa uma conversa sensível e potente sobre o amor entre duas amigas idosas, uma história de afetos que rompe com os estereótipos frequentemente atribuídos à velhice e ao relacionamento entre duas mulheres. 

A narrativa aborda temas como autonomia, saudade e reencontro, gerando forte identificação com o público e ampliando o debate sobre a representação de mulheres mais velhas no cinema. A diretora compartilhou o desejo de retratar relações entre mulheres com mais de 60 anos sob um olhar delicado e íntimo. “Cheguei à vida adulta em busca da liberdade que me foi prometida. Mas estava ocupada demais, com pouco dinheiro. E via minhas avós viajando, celebrando a vida com as amigas. Aquilo, para mim, era liberdade”, contou. “As pessoas não estão acostumadas a se ver na tela, muito menos a ver a potência da vida na maturidade. É muito bonito ver esses corpos e essas vidas representadas. Sinto que o cinema tem esse poder de acender o fogo, de iluminar os temas que costumamos silenciar”, refletiu.

Na mesa dedicada aos curtas-metragens, tanto da mostra pernambucana quanto da nacional, a criatividade diante da escassez foi o eixo comum, uma realidade constante nas produções independentes brasileiras, mas que, em vez de limitar, impulsiona soluções inventivas e novas estéticas. 

Da mostra nacional, “Tapando Buracos”, dirigido por Pally e Laura Fragoso, trouxe uma reflexão sobre fazer cinema a partir das lacunas. “É muito doido falar sobre criatividade em certos contextos, porque muitas vezes ela vira necessidade. Você é forçada a encontrar soluções. Mas espero que, nas próximas produções, possamos falar de criatividade não apenas como resposta à falta de verba, mas como exercício artístico pleno”, destacou Pally.

A coletiva contou ainda com a presença da diretora Priscila Nascimento, que falou sobre “Sonho em Ruínas”, um curta de quatro minutos que propõe uma ficção contundente sobre o colapso de sonhos individuais em um país desigual, e de Paulo Alípio, diretor do documentário “O Último Varredor”, que nasceu do desejo de lançar um olhar sensível e humano sobre quem muitas vezes passa despercebido.

 

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