O Cinema São Luiz, no Centro do Recife, acolheu neste sábado (1º) mais uma noite de exibição do CINE PE. Com a plateia praticamente lotada, o espaço recebeu a projeção do curta-metragem pernambucano Autofagia, gravado em Bezerros, no Agreste do Estado. Realizado sem nenhum incentivo cultural público ou privado, o filme aborda temas como gênero, sexualidade e homofobia, e já participou de 21 festivais nacionais e internacionais. Após apresentar a equipe do curta, o diretor Felipe Soares frisou a importância da reflexão e problematização que o filme traz. “Vivemos em uma sociedade hipócrita e preconceituosa, e Autofagia vem com força debater, gritar”, pontuou.

Equipe do filme “Autofagia”. Foto: Lana Pinho/Divulgação
A animação Quando os Dias Eram Eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos, marcou o momento de maior delicadeza em uma noite de temáticas densas. Também como parte da Mostra Competitiva de Curtas Nacionais, foram exibidos o curta dramático O Tronco, de Leonardo Rocha e Luna Grimberg, e Sal. O filme do diretor Diego Freitas, produzido com um orçamento de R$ 2.000, impressionou e foi intensamente aplaudido.
O fechamento da quinta noite de festival se deu com a ficção Toro, que integra a Mostra Competitiva de Longas-Metragens. A película narra a vida de um ex-policial que já foi playboy, traficante e até homem de honra, mas perdeu sua dignidade nos anos em que passou atrás das grades. O diretor Edu Felistoque, após prometer ser breve, pediu para deixar um recado: “Quarenta anos atrás, quando eu cismei com esse negócio de cinema e cultura, eu imaginei, e creio nisso até hoje, que a arte é uma ferramenta, e não uma arma. Então, eu fico um pouco surpreso com esse uso da arte como arma”, concluiu.
Neste domingo (2), o festival exibe o documentário pernambucano Entre Andares, de Aline Van der Linden e Marina Moura Maciel, José, animação assinada por Fernando Gutiérrez e Gabriel Ramos, e Aqueles Anos em Dezembro, de Felipe Arrojo Poroger. O longa exibido na penúltima noite de festival é o documentário O Caso Dionísio Diaz, dirigido por Fabiana Karla e Chico Amorim. Às 10h, no Hotel Transamérica, em Boa Viagem, acontecem as entrevistas coletivas dos filmes exibidos no sábado (1º).
Quase 64 anos após o lançamento do longa-metragem pernambucano O Canto do Mar, o Cinema São Luiz reviveu e remontou o filme de Alberto Cavalcanti. Na noite da última sexta (30), o CINE PE Festival do Audiovisual exibiu o curta O Menino do Canto do Mar, dirigido e roteirizado por Ulisses Andrade. No palco, entre outros membros da equipe, estava o ator Rildo Saraiva, que deu vida ao personagem principal em 1953. “O que eu posso falar? Aos 14 anos eu estava aqui, neste mesmo palco, ao lado de Alberto Cavalcanti e Hermilo Borba Filho”, lembrou Rildo, visivelmente emocionado. “O menino do canto do mar sou eu. O menino do interior, com vontade de ir para a cidade grande, estudar e aprender a escrever”, contemplou o ator, que hoje tem mais de 80 anos.

Na sequência, o público assistiu à animação cearense Peleja do Sertão, de Fábio Miranda. O curta, aprovado em 21 festivais, acompanha a noite de um grupo de sertanejos que, após sofrer um acidente, se depara com uma criatura assassina que vai matando um a um. Terceira projeção da noite, o documentário paulistano Mulheres Negras: Projetos de Mundo, da diretora Day Rodrigues em parceria com Lucas Ogasawara, arrancou lágrimas, aplausos e assovios do público. Com 25 minutos de duração, o filme dá voz à mulher negra e reverbera o grito de uma humanidade historicamente negada.

Filme de Day Rodrigues emocionou o público. Foto: Lana Pinho/Divulgação
Por fim, coube a O Crime da Gávea, dirigido por André Warwar, o fechamento da quarta noite do CINE PE. A equipe de produção do thriller policial foi representada pelo roteirista de novelas Marcílio Moraes, que estreia no cinema depois de ter escrito o livro que deu origem ao longa. “Para mim é um prêmio participar deste festival que tem tanto prestígio em Pernambuco”, declarou. Neste sábado (1º), o festival exibe os curtas Autofagia (PE), Quando os dias eram eternos, O Tronco e Sal (SP), bem como o longa-metragem Toro.
A terceira noite de exibição do CINE PE, que aconteceu nesta quinta (29), começou trilhando pelos novos caminhos e possibilidades do audiovisual. A ficção pernambucana Aqui Jaz, de Brenda Ligia Miguel, é um exemplo prático de uma nova forma de fazer cinema: o documentário foi inteiramente gravado utilizando um telefone celular. “Todos nós temos um smartphone, e qualquer um que tenha uma câmera na mão e uma ideia na cabeça pode fazer cinema”, apontou a diretora, que também assina o roteiro, produção, montagem, edição de som, direção de arte, figurino e ainda atua no filme.

A diretora Brenda Lígia apresentou seu curta ‘Aqui Jaz’. Foto: Lana Pinho/Divulgação
Seguindo a linha desta edição, que apresenta uma programação extremamente plural, o festival exibiu também o documentário brasiliense Retratos da Alma, um convite para o expectador refletir sobre a natureza humana. Excepcionalmente, a noite contou com a exibição de dois longas-metragens, ambos participantes da Mostra Competitiva da categoria: o documentário mineiro Los Leones, de André Lage, que traça um retrato íntimo de um casal argentino, a travesti Mariana Koballa e seu companheiro, Raul Francisco; e a ficção paulistana Borrasca, de Francisco Garcia, que fala sobre amizade, traição, amor e morte.
Nesta sexta (30), o evento segue com a projeção dos curtas O Menino do Canto do Mar, Peleja do Sertão e Mulheres Negras: Projetos do Mundo. O longa da noite é o policial O Crime da Gávea, dirigido por André Warwar e com roteiro de Marcílio Moraes, baseado no romance homônimo do próprio Marcílio. As sessões acontecem no Cinema São Luiz a partir das 19h30, e os ingressos custam R$ 5 (preço único). Às 10h, no Hotel Transamérica, em Boa Viagem, acontecem as entrevistas coletivas dos filmes exibidos na quinta (29). No mesmo local, às 14h30, será sediado o seminário “Economia do audiovisual: Como é possível estimar a demanda por audiovisual no Brasil?”.
Cerca de mil pessoas enfrentaram a forte chuva que atingiu o Recife na noite desta quarta-feira (28) para prestigiar o segundo dia de exibição do CINE PE. Com ingressos esgotados desde o dia anterior, o grande protagonista da programação foi o longa-metragem O Jardim das Aflições, do pernambucano Josias Teófilo. Aplaudido desde sua entrada no Cinema São Luiz, o cineasta precisou se dividir entre as entrevistas à imprensa e as selfies com o público ávido. No discurso que precedeu a projeção do documentário, o diretor falou sobre a importância de exibir o filme em sua cidade e, sobretudo, no Cinema São Luiz, relembrando a passagem de seu avô, o cineasta Pedro Teófilo Batista, que esteve na inauguração do tradicional equipamento da capital pernambucana, em 1952. “Este cinema é muito importante também porque está aqui o mural de Lula Cardoso Ayres, que é pra mim a síntese do Recife. Primeiro que é um mural cinematográfico, é uma das maiores preciosidades dessa cidade”, exaltou.

Josias Teófilo foi ovacionado antes da exibição de ‘O Jardim das Aflições’. Foto: Lana Pinho/Divulgação
A noite contou também com a exibição das animações Almas Secas e Marina e o Passarinho Perdido, e do documentário Soberanos da Resistência, concorrentes na Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Pernambucanos. O Ex-Mágico, Luiza e Dia dos Namorados foram exibidos dentro da Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Nacionais.

Público lotou o Cinema São Luiz. Foto: Lana Pinho/Divulgação
Nesta quinta (29), o evento segue com a projeção dos curtas Aqui Jaz e Retratos da Alma, além dos longas Los Leones e Borrasca. Às 10h, no Hotel Transámerica, em Boa Viagem, acontecem as entrevistas coletivas dos filmes exibidos na quarta – incluindo uma videoconferência com o próprio Olavo de Carvalho, escritor e filósofo retratado em O Jardim das Aflições. No mesmo local, às 14h30, será sediado o seminário “Novos modelos de negócios no audiovisual: como a soberania do consumidor está revendo os conceitos na produção, distribuição e exibição?”, com participação dos produtores culturais Vilma Lustosa e Fernando Dias, do jornalista e diretor de TV Hermes Leal e do produtor cinematográfico Márcio Fracarolli, da Paris Filmes.