Passados todos os percalços que precisaram ser superados nos últimos meses até a concretização do CINE PE, a idealizadora Sandra Bertini fez um balanço sobre a edição deste ano na manhã desta segunda (3). Testado a ferro e fogo, o festival que está prestes a se encerrar carrega um saldo positivo. “Enquanto produtora, estou muito satisfeita com o evento. Da logística à qualidade de som, tudo funcionou: o hotel onde ficamos, minha equipe de produção, os restaurantes que nos atenderam, etc.”, comentou a diretora do festival. Em sua avaliação, Sandra destacou a boa frequência do público, que praticamente lotou o Cinema São Luiz em todos os dias e esgotou na pré-venda os ingressos da sessão da última quarta (28), e citou contratempos de âmbito natural, como as fortes chuvas que persistiram na capital pernambucana ao longo da última semana: “O evento foi bem frequentado, ainda mais se levarmos em consideração o tempo chuvoso que o cercou durante todos os dias de exibição”. “Estou satisfeita com os debates que conduzi aqui [no Hotel Transamérica, em Boa Viagem], satisfeita com os seminários, tudo o que a gente viu durante esses sete dias me agradou. Eu me sinto com uma missão extremamente cumprida”, pontuou.
Sandra Bertini, idealizadora do festival. Foto: Lana Pinho/Divulgação
A reunião que sucedeu a última coletiva do CINE PE foi acompanhada por jornalistas da imprensa local e nacional, além de diretores, atores e responsáveis por filmes que integraram a programação deste ano. Além de Sandra, esteve no palco o ator e cineasta brasileiro Bruno Torres, que faz parte da curadoria do festival. O debate corroborou com um tema que esteve em pauta em um dos seminários realizados na última semana: os novos conceitos de consumo, produção e exibição do audiovisual. Após dois adiamentos, algumas das obras selecionadas deixaram de ser inéditas, o que gerou dúvidas na crítica especializada. “Mas como podemos ter certeza do futuro dos festivais se a tecnologia existe e muda diariamente o mercado audiovisual?”, questionou Sandra. Como exemplo dessas novas demandas na produção cinematográfica, a produtora cita a polêmica que esquentou o 70º Festival de Cannes, quando o diretor espanhol Pedro Almodóvar se posicionou contra a presença de dois longas produzidos pela Netflix na disputa da Palma de Ouro, alegando que tais filmes jamais seriam vistos em tela grande. “Estamos percorrendo novas plataformas, novas formas de consumo e até de aprovação. As pessoas escolhem o que querem e quando querem através de um aparelho celular. Não dá para fingir que a tecnologia não existe, é necessário tentar novas formas”. A realizadora finalizou dizendo que, em sua maioria, mesmo os filmes que entraram em circuito nacional ainda não foram lançados no Recife, cidade que sedia o evento.
Produtora mediou coletivas durante a semana do CINE PE. Foto: Lana Pinho/Divulgação
Sobre a escolha da programação, Bruno Torres acrescentou que fez uma lista levando em consideração a qualidade dos filmes e a pluralidade das narrativas: “Eu me prendi às propostas de linguagens diferenciadas, para que pudesse municiar Sandra com um quadro que eu acreditava que poderia oferecer a um público diferenciado”.
Com uma grade de modo geral bem avaliada, até mesmo pelos críticos que já haviam assistido alguns dos filmes e expressaram prazer em revê-los, o CINE PE Festival do Audiovisual conclui seu vigésimo primeiro ano na noite desta segunda (3), com a apresentação dos vencedores dos troféus Calunga de Prata e a exibição hours concours do longa-metragem “Atum, Farofa e Spaghetti”, com os chefs pernambucanos Duca Lapenda, Joca Pontes e Saburó Matsumoto, além do premiado curta “Duas Mulheres”, de Marcelo Brennand.
SERVIÇO:
Solenidade de encerramento do CINE PE, às 19h30
Exibição do longa “Atum Farofa e Spaghetti” e do curta “Duas Mulheres”
Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175 – Boa Vista, Recife)
Ingresso: R$ 5 (preço único)
O cinema, em especial o gênero documentário, tem o poder de resgatar o passado e revelar o presente. Na capital pernambucana, onde legados históricos e modernidade por vezes se embatem, a preservação de memórias pessoais e heranças coletivas constantemente voltam à tona. Foram esses temas que deram o tom da programação do CINE PE no último domingo (2) no Cinema São Luiz, no centro do Recife.
Público reunido na penúltima noite do CINE PE. Foto: Lana Pinho/Divulgação
Participante da Mostra Competitiva de Curtas Pernambucanos, o primeiro filme da noite foi o documentário Entre Andares. Dirigido por Aline Van der Linden e Marina Moura Maciel, o protagonista em cena é o edifício AIP (Associação da Imprensa Pernambucana): um prédio com dez andares abandonados e um cinema desativado na cobertura, um gigante ignorado em pleno coração do Recife. Sob um olhar crítico e poético, a película estimula uma reflexão sobre uma parte importante da cidade que está sendo esquecida, agregando também dimensões íntimas através do olhar de cinco personagens que têm ligações afetivas com o lugar. No palco, Aline narrou um pouco da trajetória do edifício, construído na década de 1950 e parcialmente desapropriado pelo governo de Pernambuco devido aos altos custos de manutenção e condomínio.
Fernando Gutiérrez no palco do Cinema São Luiz. Foto: Lana Pinho/Divulgação
Em seguida, o público conheceu a animação José, de Fernando Gutiérrez e Gabriel Ramos (DF). O diretor Fernando Gutiérrez manifestou seu carinho pelo festival, onde, há alguns anos, exibiu seu primeiro curta. Depois de algumas brincadeiras bem-humoradas sobre sua profissão, o animador exaltou a evolução do gênero: “A animação brasileira alça voos e já tem seu lugar marcado, não só no Brasil mas também no mundo. Este ano a gente já teve três longas distribuídos e tem mais um monte em produção, mais de vinte séries de TV estão nos canais.”
O terceiro encontro da noite foi com o emocionante Aqueles Anos em Dezembro, um diário audiovisual da história do diretor Felipe Arrojo Poroger. Com imagens gravadas por ele durante a infância, filmagens antigas e atuais de sua família, o filme tem o objetivo de resgatar a história do núcleo familiar, com uma poética homenagem a seus avós.
Por fim, Chico Amorim, diretor de O Caso Dionísio Diaz ao lado da também atriz e comediante Fabiana Carla, apresentou o documentário em longa-metragem que resgata uma trágica história acontecida em 1929 no povoado El Oro, Uruguai. Chico, que também é veterano do CINE PE, conta sobre o filme: “É um documentário experimental, feito no interior do Uruguai com uma história que estava perdida dentro desse interior e que a gente achou que deveria ser perpetuada”. “Como era uma história bem especifica de lá, a equipe técnica era toda do local, e a gente resolveu deixar o filme com a cara e a visão dessas pessoas e da terra, com a sensibilidade do local”, concluiu.
Às 10h da manhã desta segunda (3), no Hotel Transamérica, em Boa Viagem, serão realizadas as entrevistas coletivas com os responsáveis pelos filmes exibidos no domingo. Às 19h30 se dará o encerramento da 21ª edição do festival, com a exibição Hors Concours do curta Duas mulheres e do longa-metragem Atum, Farofa e Spaghetti, seguida pelas premiações dos filmes escolhidos pelo público e pelo júri oficial do CINE PE.
O Cinema São Luiz, no Centro do Recife, acolheu neste sábado (1º) mais uma noite de exibição do CINE PE. Com a plateia praticamente lotada, o espaço recebeu a projeção do curta-metragem pernambucano Autofagia, gravado em Bezerros, no Agreste do Estado. Realizado sem nenhum incentivo cultural público ou privado, o filme aborda temas como gênero, sexualidade e homofobia, e já participou de 21 festivais nacionais e internacionais. Após apresentar a equipe do curta, o diretor Felipe Soares frisou a importância da reflexão e problematização que o filme traz. “Vivemos em uma sociedade hipócrita e preconceituosa, e Autofagia vem com força debater, gritar”, pontuou.
Equipe do filme “Autofagia”. Foto: Lana Pinho/Divulgação
A animação Quando os Dias Eram Eternos, de Marcus Vinicius Vasconcelos, marcou o momento de maior delicadeza em uma noite de temáticas densas. Também como parte da Mostra Competitiva de Curtas Nacionais, foram exibidos o curta dramático O Tronco, de Leonardo Rocha e Luna Grimberg, e Sal. O filme do diretor Diego Freitas, produzido com um orçamento de R$ 2.000, impressionou e foi intensamente aplaudido.
O fechamento da quinta noite de festival se deu com a ficção Toro, que integra a Mostra Competitiva de Longas-Metragens. A película narra a vida de um ex-policial que já foi playboy, traficante e até homem de honra, mas perdeu sua dignidade nos anos em que passou atrás das grades. O diretor Edu Felistoque, após prometer ser breve, pediu para deixar um recado: “Quarenta anos atrás, quando eu cismei com esse negócio de cinema e cultura, eu imaginei, e creio nisso até hoje, que a arte é uma ferramenta, e não uma arma. Então, eu fico um pouco surpreso com esse uso da arte como arma”, concluiu.
Neste domingo (2), o festival exibe o documentário pernambucano Entre Andares, de Aline Van der Linden e Marina Moura Maciel, José, animação assinada por Fernando Gutiérrez e Gabriel Ramos, e Aqueles Anos em Dezembro, de Felipe Arrojo Poroger. O longa exibido na penúltima noite de festival é o documentário O Caso Dionísio Diaz, dirigido por Fabiana Karla e Chico Amorim. Às 10h, no Hotel Transamérica, em Boa Viagem, acontecem as entrevistas coletivas dos filmes exibidos no sábado (1º).
Quase 64 anos após o lançamento do longa-metragem pernambucano O Canto do Mar, o Cinema São Luiz reviveu e remontou o filme de Alberto Cavalcanti. Na noite da última sexta (30), o CINE PE Festival do Audiovisual exibiu o curta O Menino do Canto do Mar, dirigido e roteirizado por Ulisses Andrade. No palco, entre outros membros da equipe, estava o ator Rildo Saraiva, que deu vida ao personagem principal em 1953. “O que eu posso falar? Aos 14 anos eu estava aqui, neste mesmo palco, ao lado de Alberto Cavalcanti e Hermilo Borba Filho”, lembrou Rildo, visivelmente emocionado. “O menino do canto do mar sou eu. O menino do interior, com vontade de ir para a cidade grande, estudar e aprender a escrever”, contemplou o ator, que hoje tem mais de 80 anos.
Na sequência, o público assistiu à animação cearense Peleja do Sertão, de Fábio Miranda. O curta, aprovado em 21 festivais, acompanha a noite de um grupo de sertanejos que, após sofrer um acidente, se depara com uma criatura assassina que vai matando um a um. Terceira projeção da noite, o documentário paulistano Mulheres Negras: Projetos de Mundo, da diretora Day Rodrigues em parceria com Lucas Ogasawara, arrancou lágrimas, aplausos e assovios do público. Com 25 minutos de duração, o filme dá voz à mulher negra e reverbera o grito de uma humanidade historicamente negada.
Filme de Day Rodrigues emocionou o público. Foto: Lana Pinho/Divulgação
Por fim, coube a O Crime da Gávea, dirigido por André Warwar, o fechamento da quarta noite do CINE PE. A equipe de produção do thriller policial foi representada pelo roteirista de novelas Marcílio Moraes, que estreia no cinema depois de ter escrito o livro que deu origem ao longa. “Para mim é um prêmio participar deste festival que tem tanto prestígio em Pernambuco”, declarou. Neste sábado (1º), o festival exibe os curtas Autofagia (PE), Quando os dias eram eternos, O Tronco e Sal (SP), bem como o longa-metragem Toro.