Resgate pessoal e preservação histórica dão o tom da penúltima noite do CINE PE

Resgate pessoal e preservação histórica dão o tom da penúltima noite do CINE PE

O cinema, em especial o gênero documentário, tem o poder de resgatar o passado e revelar o presente. Na capital pernambucana, onde legados históricos e modernidade por vezes se embatem, a preservação de memórias pessoais e heranças coletivas constantemente voltam à tona. Foram esses temas que deram o tom da programação do CINE PE no último domingo (2) no Cinema São Luiz, no centro do Recife.

Público reunido na penúltima noite do CINE PE. Foto: Lana Pinho/Divulgação

Participante da Mostra Competitiva de Curtas Pernambucanos, o primeiro filme da noite foi o documentário Entre Andares. Dirigido por Aline Van der Linden e Marina Moura Maciel, o protagonista em cena é o edifício AIP (Associação da Imprensa Pernambucana): um prédio com dez andares abandonados e um cinema desativado na cobertura, um gigante ignorado em pleno coração do Recife. Sob um olhar crítico e poético, a película estimula uma reflexão sobre uma parte importante da cidade que está sendo esquecida, agregando também dimensões íntimas através do olhar de cinco personagens que têm ligações afetivas com o lugar. No palco, Aline narrou um pouco da trajetória do edifício, construído na década de 1950 e parcialmente desapropriado pelo governo de Pernambuco devido aos altos custos de manutenção e condomínio.

Fernando Gutiérrez no palco do Cinema São Luiz. Foto: Lana Pinho/Divulgação

Em seguida, o público conheceu a animação José, de Fernando Gutiérrez e Gabriel Ramos (DF). O diretor Fernando Gutiérrez manifestou seu carinho pelo festival, onde, há alguns anos, exibiu seu primeiro curta. Depois de algumas brincadeiras bem-humoradas sobre sua profissão, o animador exaltou a evolução do gênero: “A animação brasileira alça voos e já tem seu lugar marcado, não só no Brasil mas também no mundo. Este ano a gente já teve três longas distribuídos e tem mais um monte em produção, mais de vinte séries de TV estão nos canais.”
O terceiro encontro da noite foi com o emocionante Aqueles Anos em Dezembro, um diário audiovisual da história do diretor Felipe Arrojo Poroger. Com imagens gravadas por ele durante a infância, filmagens antigas e atuais de sua família, o filme tem o objetivo de resgatar a história do núcleo familiar, com uma poética homenagem a seus avós.

Por fim, Chico Amorim, diretor de O Caso Dionísio Diaz ao lado da também atriz e comediante Fabiana Carla, apresentou o documentário em longa-metragem que resgata uma trágica história acontecida em 1929 no povoado El Oro, Uruguai. Chico, que também é veterano do CINE PE, conta sobre o filme: “É um documentário experimental, feito no interior do Uruguai com uma história que estava perdida dentro desse interior e que a gente achou que deveria ser perpetuada”. “Como era uma história bem especifica de lá, a equipe técnica era toda do local, e a gente resolveu deixar o filme com a cara e a visão dessas pessoas e da terra, com a sensibilidade do local”, concluiu.
Às 10h da manhã desta segunda (3), no Hotel Transamérica, em Boa Viagem, serão realizadas as entrevistas coletivas com os responsáveis pelos filmes exibidos no domingo. Às 19h30 se dará o encerramento da 21ª edição do festival, com a exibição Hors Concours do curta Duas mulheres e do longa-metragem Atum, Farofa e Spaghetti, seguida pelas premiações dos filmes escolhidos pelo público e pelo júri oficial do CINE PE.

Para o roteirista Marcílio Moraes, autores têm pouca liberdade atualmente

Para o roteirista Marcílio Moraes, autores têm pouca liberdade atualmente

Durante coletiva no Hotel Transamérica, em Boa Viagem, na manhã deste sábado (1º), o roteirista Marcílio Moraes expôs a dificuldade que os roteiristas passam atualmente nas emissoras de TV: “Eu tenho um contrato ainda com a Record, mas é uma emissora muito religiosa, né? E eu não sou muito religioso. Enfim, os autores têm pouca liberdade hoje em dia”, desabafou. Marcílio, roteirista de clássicos da teledramaturgia brasileira como Roque Santeiro, Roda de Fogo e Mandala, está no Recife para o lançamento de seu primeiro filme, o thriller policial O Crime da Gávea. Exibido no CINE PE na noite da última sexta (30), o longa dirigido por André Warwar é inspirado no livro homônimo escrito pelo próprio Marcílio e lançado em 2003.

Sandra Bertini e Marcílio Moraes. Foto: Lana Pinho/Divulgação

No mesmo local, pouco antes da conversa com o roteirista, Sandra Bertini mediou um debate com os responsáveis pelos curtas exibidos no quarto dia de festival. Estavam presentes o Dr. Rildo Saraiva, que, aos 14 anos, foi protagonista do longa O Canto do Mar e agora, aos 80, é personagem do documentário O Menino do Canto do Mar, dirigido por Ulisses Andrade, também presente; o diretor de Peleja do Sertão, Fábio Miranda; e Day Rodrigues, diretora de Mulheres Negras: Projetos de Mundo.

Pular para o conteúdo