Com narrativas que flertam com o sobrenatural, distopias e universos psicológicos densos, a coletiva desta sexta-feira (13) do CINE PE reuniu diretores e atrizes para debater os bastidores e os desafios de produzir cinema fantástico no Brasil. Durante o momento, foram abordados o preconceito que ainda cerca o gênero, além das complexidades de lidar com temas sensíveis através de metáforas visuais e sonoras.

A seleção exibida na noite da quinta (12) foi uma amostra da diversidade estética e temática do gênero. Da ficção científica à psicologia do horror, passando pelo realismo mágico e pelo drama claustrofóbico da maternidade, os filmes da Mostra Competitiva de curtas e longas revelaram um cinema brasileiro disposto a desafiar convenções.

Em Casulo, da diretora Aline Flores, o fantástico se manifesta na tensão latente e na iminência de algo prestes a ruir. A trama acompanha uma mulher que tenta provar à sociedade e a si mesma que pode cuidar do filho sozinha. Já em Caverna, da diretora Louise Fiedler, o debate chega ao tratar da relação simbiótica e tóxica entre mãe e filha. A atmosfera do filme, marcada por um ambiente opressor e sem saídas aparentes, serviu como metáfora para laços familiares doentios e silêncios emocionais. “A caverna não é só física. Ela é emocional, social e existencial”, afirmou.

O curta Lança-Foguete, de William Oliveira, provocou tanto dentro quanto fora das telas. Antes da exibição, luzes verdes foram lançadas no céu do Recife, uma ação de marketing realizada em parceria com o coletivo Recife Ordinário. “Ainda existe muito preconceito com o cinema fantástico no Brasil”, pontuou Thiago Rocha, diretor de produção. “A gente quer sair da bolha e é por isso que estamos pensando em como levar essa coisa do tema da abdução alienígena para outras regiões. Então, para dar continuidade ao marketing, a gente pode sim pensar em uma parceria com o Recife Ordinário para fazer collab com outros perfis de Ordinários pelo Nordeste e atingir um público maior”, completou William.

Em Sertão 2138, o curta imagina um futuro distópico onde uma cientista precisa tomar decisões cruciais para além da Terra. “Produzir um filme como esse é um trabalho difícil, porque exige criatividade técnica e narrativa”, disse Deuilton B Júnior.

Encerrando a coletiva, o diretor André Luís Garcia, do longa Itatira, comentou sobre o uso do som como elemento central na narrativa de seu documentário com tons sobrenaturais. O filme parte de um fato real, a morte de um jovem em uma escola, e mergulha nas reações místicas e coletivas da cidade. “O som faz parte de uma narrativa muito importante para povoar o universo de um jeito um pouco fantástico. São questões pontuais de construção sonora, que fortalecem a contemplação”, refletiu.

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