Um dos nomes mais respeitados do cinema e da televisão brasileira, o diretor de fotografia Walter Carvalho ministrou, nesta quinta-feira (12), o workshop Teledramaturgia: A Palavra Pelo Olhar de Uma Interpretação por Dentro da Imagem. A atividade integrou a programação do 29º Cine PE e foi realizada no Novotel, no Recife.
Com uma carreira que atravessa décadas e colaborações com cineastas como Luiz Fernando Carvalho e José Padilha, Walter compartilhou com o público sua visão sobre a construção da imagem na teledramaturgia, destacando a importância da fotografia como linguagem narrativa.
Durante o encontro, cineastas, estudantes e entusiastas do audiovisual tiveram a oportunidade de mergulhar nos bastidores da criação estética de séries e novelas, explorando desde a relação entre câmera e ator até a luz como elemento de expressão dramática.
No quarto dia de coletivas do 29º Cine PE, o amor em suas formas mais profundas e a força criativa diante da escassez de recursos marcaram os debates com os realizadores da Mostra Competitiva. O destaque da manhã foi o longa “Senhoritas”, de Mykaela Plotkin, que trouxe à mesa uma conversa sensível e potente sobre o amor entre duas amigas idosas, uma história de afetos que rompe com os estereótipos frequentemente atribuídos à velhice e ao relacionamento entre duas mulheres.
A narrativa aborda temas como autonomia, saudade e reencontro, gerando forte identificação com o público e ampliando o debate sobre a representação de mulheres mais velhas no cinema. A diretora compartilhou o desejo de retratar relações entre mulheres com mais de 60 anos sob um olhar delicado e íntimo. “Cheguei à vida adulta em busca da liberdade que me foi prometida. Mas estava ocupada demais, com pouco dinheiro. E via minhas avós viajando, celebrando a vida com as amigas. Aquilo, para mim, era liberdade”, contou. “As pessoas não estão acostumadas a se ver na tela, muito menos a ver a potência da vida na maturidade. É muito bonito ver esses corpos e essas vidas representadas. Sinto que o cinema tem esse poder de acender o fogo, de iluminar os temas que costumamos silenciar”, refletiu.
Na mesa dedicada aos curtas-metragens, tanto da mostra pernambucana quanto da nacional, a criatividade diante da escassez foi o eixo comum, uma realidade constante nas produções independentes brasileiras, mas que, em vez de limitar, impulsiona soluções inventivas e novas estéticas.
Da mostra nacional, “Tapando Buracos”, dirigido por Pally e Laura Fragoso, trouxe uma reflexão sobre fazer cinema a partir das lacunas. “É muito doido falar sobre criatividade em certos contextos, porque muitas vezes ela vira necessidade. Você é forçada a encontrar soluções. Mas espero que, nas próximas produções, possamos falar de criatividade não apenas como resposta à falta de verba, mas como exercício artístico pleno”, destacou Pally.
A coletiva contou ainda com a presença da diretora Priscila Nascimento, que falou sobre “Sonho em Ruínas”, um curta de quatro minutos que propõe uma ficção contundente sobre o colapso de sonhos individuais em um país desigual, e de Paulo Alípio, diretor do documentário “O Último Varredor”, que nasceu do desejo de lançar um olhar sensível e humano sobre quem muitas vezes passa despercebido.
Na terceira noite do Festival Cine PE 2025, o destaque da noite ficou por conta da exibição de “Senhoritas”, longa-metragem pernambucano dirigido por Mykaela Plotkin, que teve sua estreia nacional no festival. A noite também foi marcada pela presença das atrizes Tania Alves – que retorna ao festival após ser homenageada com o Troféu Calunga de Ouro no Cine PE 2024-, Analu Prestes e Clarissa Pinheiro.
A produtora do filme, Kika Latache, celebrou o trabalho coletivo e a potência da produção audiovisual feita a muitas mãos. “Cinema é equipe”, destacou Latache. “Esse filme só existe porque nós e muitas outras pessoas doamos nossa energia para fazer essa história acontecer. É de uma felicidade enorme ver essa sala cheia. É tão bonito ver daqui”, completou. Em seu discurso, ela também prestou homenagem às atrizes e produtoras do filme, e reforçou a importância do CINE PE como espaço de formação para a classe artística local. “Quase todo mundo que trabalha com cinema aqui em Recife tem esse festival como local de aprendizado há décadas”, pontuou, antes de convidar toda a equipe presente no palco a se apresentar.
Além de “Senhoritas”, outros filmes compuseram a programação da noite. Pela Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Pernambucanos, foi exibido “Sonho em Ruínas” (PE), ficção dirigida por Priscila Nascimento. Já na Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Nacionais, o público acompanhou “Tapando Buracos” (AL), de Pally e Laura Fragoso, e “O Último Varredor” (MT), documentário de Perseu Azul e Paulo Alipio.
Quinta-feira com palestra especial e novas sessões de cinema gratuito
A programação do Cine PE 2025 continua nesta quinta-feira (12) com uma atividade formativa: a Palestra Especial com o diretor Walter Carvalho, um dos nomes mais respeitados do audiovisual brasileiro. Ele abordará o tema “Teledramaturgia: A Palavra pelo Olhar de uma Interpretação por Dentro da Imagem”, às 15h, na Sala de Coletivas. A participação é gratuita.
À noite, o público volta ao Cinema do Teatro do Parque, a partir das 19h, para mais uma sessão da mostra competitiva, com entrada gratuita mediante inscrição no Sympla.
A programação traz os curtas-metragens pernambucanos “Lança-Foguete” (dir. William Oliveira, 16’) e “Sertão 2138”(dir. Deuilton B. Júnior, 19’), além dos curtas nacionais “Casulo” (SP), dirigido por Aline Flores, e “A Caverna” (PR), dirigido por Louise Fiedler.
Fechando a noite, será exibido o documentário “Itatira” (SP), de André Luís Garcia, na mostra competitiva de longas-metragens.
O segundo dia de coletivas do CINE PE 2025, realizado nesta quarta-feira (10), deu continuidade à programação do festival com debates que ressaltaram o papel da tradição cultural brasileira no cinema. Os cineastas presentes destacaram a importância de ampliar os investimentos públicos e privados no audiovisual, especialmente em produções que valorizam narrativas regionais.
Juliana Lira, produtora do documentário O ano em que o frevo não foi pra rua, que revisita os carnavais suspensos pela pandemia e evidencia a força coletiva da produção cultural em Pernambuco, destacou a necessidade de apoio local. “Foi muito bonito quando os Guerreiros do Passo estiveram em Cannes, eu fiquei muito emocionada. Mas é ainda mais bonito quando a gente tem apoio aqui também. Apoio pra poder sair. Porque, depois que a gente conquista visibilidade, todo mundo quer ser o pai da criança”, pontuou.
A valorização das histórias contadas a partir do olhar de quem vive o território foi um dos principais pontos reforçados na coletiva sobre O Carnaval é de Pelé, documentário de Lucas Santos e Daniele Leite. A obra retrata a trajetória do Boi Tira-Teima, grupo centenário de Bumba meu Boi da cidade de Caruaru. “Toda a equipe do filme é do Agreste e a gente acredita que quando alguém da região faz um filme sobre ela, coloca ali sua vivência, sua visão de mundo. Estar aqui no Cine PE, ter produzido esse filme graças ao edital Paulo Gustavo, é massa. Mas como fazer esse conteúdo circular? Como sair desses lugares? Esse é o grande desafio, porque falta apoio e investimento”, refletiu Daniele.
Também exibido no festival, o curta Babalu é Carne Forte, de Julia Doxagui, apresentou uma ficção que mistura mistério, realidade e laços familiares. “Estou muito feliz em estrear o filme no Cine PE, e com a sala cheia! A obra foi pensada para as crianças”, comentou a diretora.
Encerrando a coletiva, o curta de animação Kabuki, do diretor Tiago Minamisawa (SP), emocionou o público com sua delicada narrativa desenvolvida ao longo de nove anos. “É minha primeira vez em Recife e estou muito, muito feliz. Esse filme só existe graças a muitas mãos, especialmente de pessoas trans, que ajudaram a construir essa história. Espero que ele contribua para transformar a realidade que retrata”, declarou Tiago.
O longa “A Melhor Mãe do Mundo”, novo trabalho da premiada cineasta Anna Muylaert (“Que Horas Ela Volta?”), será reexibido nesta sexta-feira (13), às 17h, no Cinema do Teatro do Parque, no Recife. A sessão extra foi confirmada após solicitação do público e da Galeria+, produtora e distribuidora do filme, devido ao atraso na abertura do 29º Cine PE – Festival do Audiovisual.
Na cerimônia de abertura, realizada na última segunda-feira (9), a presença da Ministra da Cultura, Margareth Menezes, marcou o anúncio de um novo edital do Ministério da Cultura (MinC), o que impactou o horário previsto para a exibição do longa. Por conta disso, parte do público não conseguiu acompanhar a obra na íntegra.
Protagonizado por Shirley Cruz e Seu Jorge, o filme narra a trajetória de Gal, uma catadora de recicláveis que foge com os filhos após tentar denunciar o marido abusivo e não receber apoio das autoridades. Para proteger as crianças, Gal os faz acreditar que estão embarcando em uma grande aventura.
Com estreia nacional marcada para 8 de agosto, a sessão no Cine PE é uma oportunidade de assistir ao longa antes de seu lançamento oficial. A entrada é gratuita.
A programação do festival segue normalmente após a exibição, com a única homenagem da noite sendo dedicada ao ator Julio Andrade. O evento também segue com as Mostras de Curtas Pernambucanos, Curtas Nacionais e Longas-metragens em competição.
