A despeito das chuvas intensas que caíram no Recife na última sexta (8), a 28ª edição do Cine PE deu início às Mostras Competitivas no Cineteatro do Parque parcialmente lotado. A segunda noite do festival teve a exibição de seis curtas e um longa-metragem.
O impactante “Descarrego”, de Joana Claude, deu início à Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Pernambucanos, seguido pela animação em rotoscopia Nova Aurora, de Victor Jiménez, sobre uma adolescente surda e sua relação com o pai que não fala Libras. A realidade das pessoas com deficiência foi tema de metade dos filmes da noite.
O primeiro dia da Mostra Competitiva de Curtas-Metragens Nacionais teve “Zagêro” (RS), de Victor Di Marco e Márcio Picoli, “Solange Não Veio Hoje” (BA), de Hilda Lopes e Klaus Hastenreiter, e “Dentro de Mim” (AL), de Dayane Teles. A programação incluiu também “Dependências” (RJ), primeiro curta-metragem dirigido por Luisa Arraes. A atriz, diretora e roteirista fez um bate e volta no Recife para a estreia de “Grande Sertão”, na quinta-feira (6), mas, como não poderia estar presente no lançamento do curta, deixou um vídeo direcionado ao público.
Victor Di Marco, ator principal, roteirista e diretor de “Zagêro”, se sentou na beira do palco com o diretor Márcio Picoli e a diretora de fotografia Ma Villa Real e convidou o público a “não pensar em acessibilidade, porque a acessibilidade tem um perigo muito grande que é a gente dar o poder para alguém nos incluir. Então, este é um convite para que a gente aleije a nossa vida, aleije os nossos corpos, aleije os espaços que não são convidativos para pessoas com deficiência”. Victor, vencedor do prêmio de Melhor Curta Nacional no Cine PE 2020, com o documentário “O que pode um corpo”, acrescentou: “Eu estou muito feliz porque este é o primeiro festival da minha carreira em que eu não sou o único artista com deficiência a estar na mostra de filmes, e isso é um marco”.
A noite se encerrou com o documentário em longa-metragem “Memórias de Um Esclerosado” (RS), de Thaís Fernandes e Rafael Corrêa. Rafael, cartunista diagnosticado com esclerose múltipla em 2010, usou filmagens e trechos em animação para organizar suas memórias e mostrar o convívio com a doença degenerativa. Ao agradecer ao público e ao Cine PE, Rafael não pôde deixar de mencionar as dificuldades que enfrentou para estar presente no festival: “Eu tive problema no avião, não tem carro acessível, o hotel não tem porta acessível e aqui não tem rampa pra subir no palco, então vocês imaginam o que é a gente passar por isso todo dia. Mas, quando o Victor falou de aleijar, eu lembrei que um dos maiores artistas do Brasil tinha a alcunha de Aleijadinho”.